Alexandre Delanne

O PAI DE GABRIEL DELANNE

membro da SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS (SPEE)

 fundada por ALLAN KARDEC

FUNDADOR DA UNIÃO ESPÍRITA FRANCESA

(1830 - 1901)

 

Marie Alexandrine Didelot (Mme. Delanne)

A MÃE DE GABRIEL DELANNE

A GRANDE MÉDIUM psicografa (mecânica)

membro da SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS (SPEE)

 fundada por ALLAN KARDEC

(1831  - 1894)

 

(OS CONTEMPORÂNEOS DE ALLAN KARDEC)

 

FUNDAÇÃO DA UNIÃO ESPÍRITA FRANCESA

 

 RELATÓRIO

DAS SESSÕES DE 24 DE DEZEMBRO DE 1882 E DE 5 DE JANEIRO DE 1883

PREÇO: 30 CENTS

À VENDA

NA SEDE SOCIAL: PASSAGEM CHOISEUL, 39 E 41

(1883)

 

Fondation de l' Union Spirite Française

Compte-rendu

Des séances du 24 décembre 1882 et du 5 janvier 1883

En Vente

Au Siege Social, Passagem Choiseul, 39 et 41

(1883)

Comentários do site:

Esta página é um pequeno resgate do Movimento Espírita Francês no período de Allan Kardec e em períodos posteriores, apresentando os autores, os pais de Gabriel Delanne.

Alexandre Delanne, como contemporâneo de Allan Kardec e pioneiro no trabalho da divulgação da Doutrina Espírita, foi um dos primeiros membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), cooperando ativamente na Revista Espírita.

Foi fundador União Espírita Francesa, da Revista Espírita Le Spiritisme e de muitos órgãos de divulgação doutrinária, destacando-se o Le Progrès Spirite Organe de la Fédération Spirite Universelle.

Marie Alexandrine Didelot, que ficaria conhecida nas hostes espíritas como Mme. Delanne, era médium de psicografia (escrevente mecânica). Diversas mensagens psicografadas por ela foram publicadas por Kardec em algumas edições da Revista Espírita.

Graças a dedicação dos pais para  sua formação espírita o notável Gabriel Delanne se  destacou como um dos mais importantes  divulgadores da Doutrina Espírita na Terra.

Irmãos W. e Jorge Hessen
 

Trechos da biografia dos pais de Gabriel Delanne (Alexandre Delanne e Marie Alexandrino Didelot)

Três homens, na França, mereceram, por seu devotamento à Ciência Espírita, serem chamados “Apóstolos do Espiritismo”. São eles: Allan Kardec, Léon Denis e Gabriel Delanne.

Apenas este último nasceu numa família que conhecia e praticava, desde vários anos, o Espiritismo.

Allan Kardec tinha 51 anos quando começou a se ocupar com as mesas girantes e Léon Denis viveu 16 anos sem ter ouvido falar de Espiritismo.

François-Marie-Gabriel Delanne nasceu em Paris, Rua do Caire, 21, em 23 de março de 1857.

Seu pai, Alexandre Delanne e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, tinham uma modesta loja de artigos de higiene.

Alexandre Delanne viajava para seus negócios e sua esposa dirigia a loja.

Durante suas viagens, o pai de Gabriel Delanne ouviu um dia, em Caen, falar de Espiritismo pela primeira vez.

Era domingo, no Café do “Grand Balcon”.

Perto dele, dois desconhecidos mantinham uma conversa, no meio da qual um deles afirmava a existência dos espíritos e sua comunicação possível com os vivos.

Alexandre Delanne não pôde evitar de zombar dele, mas, longe de se zangar, aquele a quem criticava lhe explicou rapidamente o que era o Espiritismo e lhe disse que um pensador, Allan Kardec, havia fundado, em Paris, uma sociedade espírita e aconselhou a leitura de certas obras escritas por esse homem.

De volta a Paris, alguns dias após, Alexandre Delanne contou essa conversa a sua esposa. Esta, já mais espiritualista, aconselhou-o a adquirir os livros recomendados.

Foi então que ele fez a leitura de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns. Esses volumes interessaram profundamente Alexandre Delanne, que desejou conhecer o autor.

Acolhido fraternalmente por Allan Kardec, que morava então na Passagem Santa'Ana, foi convidado a assistir a uma das reuniões da sociedade recém-fundada.

O convite foi aceito com alegria. Numa noite de quarta-feira, Alexandre Delanne e a sua esposa assistiram a uma sessão bem interessante e, na mesma ocasião, quiseram saber se algum deles possuía mediunidade.

“A exemplo do Mestre – escreveu mais tarde Alexandre Delanne –, dirigimos uma curta, mas fervorosa oração ao Ser Supremo e, sentados, minha mulher e eu, com o lápis numa folha de papel em branco, aguardamos, ansiosos e plenos de emoção, que o espírito quisesse manifestar-se.

De repente – ó maravilha! –, a mão de minha querida esposa se agitou. Movida por uma força invisível, traçou rapidamente linhas em ziguezague, depois palavras apenas esboçadas, através das quais, todavia, três bem legíveis brilhavam diante de nossos olhos estupefatos:

“Crede, orai, aguardai.”

Alexandre Delanne residia, então, na Rua Saint-Denis, na Casa dos Banhos São Salvador.

“Foi lá – escreveu ele (fins de 1889) – que fundamos nosso Grupo. Naquele lugar, durante dez anos, abrimos nossas portas e nossos corações a todos os homens de boa vontade.

Durante todo o tempo desse longo e laborioso período de proselitismo, não quisemos aceitar a colaboração de ninguém, apesar de nossa humilde e modesta posição social, a fim de conservar nossa inteira independência para dirigir nossos trabalhos e ter assim a maior liberdade para receber e instruir os neófitos.

Foi bom, porque jamais qualquer confusão, qualquer desordem perturbou nossas sessões.”

A mãe de Gabriel Delanne tornou-se rapidamente uma excelente médium escrevente mecânica.

Não podemos deixar de assinalar uma passagem do Voyage au Pays des Souvenirs (Viagem do País das Recordações), publicado por Alexandre Delanne, na revista O Espiritismo.

“Quantas mães – escreveu ele –, quantos filhos, quantos pais encontraram a esperança, reconhecendo seres que eles supunham para sempre perdidos! Quantas almas corroídas pela dúvida encontraram, enfim, seu caminho de Damasco.

Diante de semelhantes resultados, são esquecidas facilmente as lutas, as penas, as amarguras, as fadigas, os combates de toda sorte, suportados em face dos notáveis sucessos.

Quão belas recompensas morais pelo pouco de bem que se pôde fazer!...”

Citemos alguns fatos.

Numa noite de reuniões, nosso amigo Ledoyen, antigo livreiro do Palais Royal, membro da Sociedade Espírita de Paris, nos mandou dois estrangeiros que recebemos por sua solicitação.

Esses senhores assistiram à reunião como simples curiosos.

Naquela noite, a Sra. Potet, médium escrevente, obteve, mecanicamente, uma comunicação que não conseguiu ler.

Os hieróglifos passaram de mãos em mãos, mas dentre todos nós ninguém pôde decifrá-los, quando um dos dois visitantes pediu para ver a comunicação.

Qual não foi o seu espanto e o nosso, quando o desconhecido nos disse que aquela comunicação estava redigida em idioma piemontês, que ele ficou no dever de nos traduzir.

Convém destacar que esse fato típico impressionou seriamente os dois estrangeiros, porque nos pediram eles com insistência, no fim da reunião, lhes conceder uma sessão particular, isto é, recebê-los reservadamente, o que lhes foi concedido.

Em 30 de agosto de 1862, compareceram ao encontro e nos entregaram seus cartões de visita, sem qualquer qualificação.

“Para nos convencer melhor – disseram eles –, desejamos dirigir a um espírito que conhecemos uma evocação mental.”

Concordamos com o pedido; apenas combinamos que, para maior segurança, ele fosse feito numa folha de papel de modo claro e não vago.

Eles se submeteram a essa exigência e escreveram sua evocação em língua estrangeira.

Colocou-se o papel, dobrado em quatro, ao pé da lâmpada.

A Sra. Delanne apanhou sua caneta e o espírito escreveu mecanicamente as seguintes frases:

“Vocês me perguntam porque me opus, durante minha vida, à publicação do livro de Charles Albert, apesar de seu talento.

É que ele combatia os abusos do clero do qual eu fazia parte.

Eu o lamento e sofro por isso. Orem por mim.

Vosso cardeal, hoje um simples espírito.

Reservem o título de Eminência a um mais eminente do que eu”.

Assinado: Lambrousquini.”

Logo que terminou a comunicação e antes de ser dada a conhecer, pedimos a esses senhores para nos lerem o pedido escrito, que se achava sob a lâmpada.

Ei-lo, textualmente:

“Pedimos ao espírito de sua Eminência, o Cardeal Lambrousquini, que nos diga por que se opôs à publicação do livro que Charles Albert devia publicar.”

Nossos visitantes ficaram estupefatos com essa irrecusável prova de identidade.

Alexandre Delanne aproveitava todas as suas viagens para fazer uma propaganda intensa em favor do Espiritismo.

Era, portanto, normal que a família Delanne formasse adeptos fervorosos e pode-se citar entre eles o Sr. e a Sra. Pierre Potet, que foram assim iniciados muito rapidamente, graças à mediunidade da Sra. Delanne.

Tal era o meio no qual nasceu Gabriel Delanne. Seus pais o educaram, por conseqüência, segundo o ensino moral do Espiritismo.

Desde sua infância, foi familiarizado com vocabulário espírita e assistiu, desde cedo, a numerosas e bem interessantes sessões.

O pai de Gabriel Delanne foi o primeiro a falar do Espiritismo em Béziers, mais tarde tornado um centro espírita importante.

Allan Kardec via freqüentemente a família Delanne, à qual dedicava uma viva amizade.

Em suas visitas, demonstrava muito prazer em levar brinquedos para o pequeno Gabriel, que ele costumava deixar pular familiarmente em seus joelhos.

Seria um simples sentimento de afeição? Não existiria no fundador do Espiritismo o pressentimento de que esse garoto saberia seguir seu exemplo e se tornaria, ele também, um dos apóstolos do Espiritismo?

Durante toda a sua vida terrena, Gabriel Delanne conservou sempre a preciosa recordação do mestre, que ele exaltou em todas as suas obras, em suas conferências e discursos.

Poderíamos fazer, sobre esse assunto, inúmeras citações, mas nos contentaremos em recordar o que ele dizia, em 23 de janeiro de 1887, em Lyon, cidade natal do mestre.

“Acreditamos, verdadeiramente, em Allan Kardec e continuaremos fiéis a seus princípios. Solidamente apoiados na Ciência, marcharemos corajosamente na rota que seu gênio nos traçou; com os olhos fixados nas consolações que nossa doutrina traz consigo, marcharemos para os grandiosos e ilimitados horizontes que ela nos descobre, marcharemos, afinal, sustentados pela força que dão o bom direito, a verdade e a Ciência, e tentaremos assim estabelecer a verdade das obras do mestre.”

Tendo assistido em sua casa a numerosas sessões espíritas, alegrava-se em narrar uma delas, à qual assistira com a idade de 17 anos, portanto em 1874, na casa de seus pais, situada na Passagem Choiseul, 39 e 41.

Damos aqui a palavra a nosso amigo Charles Rousseau, que relata essa reunião na Science de l’Âme (A Ciência da Alma) de 16 de dezembro de 1924:

“O apartamento de Alexandre Delanne, ao qual se subia por uma escada existente na loja, tinha um salão bem amplo, onde se realizou a manifestação, em presença de uma vintena de pessoas, entre as quais umas bem cépticas.

O gabinete do médium tinha sido instalado no vão da janela; uma grande mesa, com seus dois acréscimos, ocupava toda a peça. Os assistentes estavam reunidos em volta dessa mesa, as cadeiras ficavam juntas à parede, tornando impossível qualquer circulação.

A extremidade da mesa tocava as cortinas do gabinete improvisado.

Fez-se a cadeia. O pai de Gabriel Delanne pôs seu pé sobre um dos pés do médium, enquanto que um outro assistente fazia o mesmo com o outro pé. É desnecessário acrescentar que todas as precauções foram tomadas para o mais rigoroso controle.

Uma caixa de música e um alto-falante se achavam sobre a mesa. Fez-se a obscuridade completa.

Ao fim de alguns minutos, a caixa de música deixou a mesa e passeou no ar, sobre os assistentes; depois, foi a vez do alto-falante, no qual uma voz sonora lançou algumas frases em inglês.”

Com seu pai, Alexandre Delanne, foi ele um dos fundadores da União Espírita Francesa (primeira com o nome), criada em Paris, na Salle de la Redoute, a 24 de dezembro de 1882, sob a presidência do Dr. Josset.

Os membros da Comissão da União Espírita Francesa se reuniam na casa de Alexandre Delanne, nas segundas, quartas e sextas-feiras do mês.

Essa sociedade tinha por fim principal reunir num só bloco todas as forças espíritas esparsas no país.

Os verdadeiros animadores da União Espírita Francesa e da revista Le Spiritisme eram Alexandre Delanne e Gabriel Delanne.

Graças a uma propaganda incansável e habilidosa, dissiparam bastantes prevenções e incompreensões que ainda existiam no interior do país contra o Espiritismo.

A Sra. Alexandre Delanne era também colaboradora de seu marido e de seu filho e a verdadeira tesoureira da Federação. Todas as assinaturas da revista ficavam sob seus cuidados.

A sede do jornal Le Spiritisme foi, inicialmente, na Passagem Choiseul, 39 e 41; depois, sucessivamente, Passagem Choiseul, 62 e Rua Delayrac, 38, onde a família Delanne havia fundado um Grupo Espírita.

Em 1890, seu irmão Ernesto se casou. Ernesto era também espírita, disso não fazia segredo e era amigo íntimo de Léon Denis.

A cunhada de Gabriel não era espírita, mas isso não o impediu de ter por ela uma afeição fraternal, que perdurou por toda a sua existência.

A Sra. Ernesto Delanne ajudava sua sogra em seu comércio. Seu marido viajava para o pai de dois em dois meses. Alexandre Delanne viajava constantemente e somente descansava no Natal, durante 12 dias, na época das férias gerais.

Gabriel Delanne não possuía uma boa saúde; já no momento do casamento de seu irmão, ele tinha uma predisposição à ataxia, o que se notava em seu andar. Não sentia necessidade de bengala para se movimentar, porém tinha um ligeiro defeito.

Sua visão jamais foi perfeita desde a infância; tivera um abcesso no olho esquerdo, o que o impedia de ver com esse olho, sendo essa a causa de sua dispensa do serviço militar.

Em 1892, Ernesto Delanne caiu gravemente enfermo e precisou deixar Paris com sua mulher; isso aborreceu muito a Gabriel Delanne, que nutria por seu irmão uma profunda afeição.

Enviando-lhe seu primeiro livro O Espiritismo perante a Ciência, pôs a seguinte dedicatória:

“A meu bem-amado irmão, homenagem do amor fraternal.”

Essa afeição existiu igualmente para com sua cunhada Noémie, com a qual manteve até à morte relações muito amistosas.

Em 1892, Gabriel Delanne deixou a Companhia Popp e tornou-se representante de uma outra casa comercial, pela qual viajou muito.

Seguindo o exemplo de seu pai, Gabriel aproveitou essas viagens para fazer uma propaganda intensa em favor do Espiritismo.

Ele encontrava-se na Algéria, em 1893, quando seu irmão Ernesto morreu, no dia 9 de julho, em Gray; foi para ele um grande sofrimento não poder assistir aos funerais.

Alexandre Delanne estava igualmente longe e não pôde voltar para dar assistência a sua nora, Noémie.

Ele viajava, naquele momento, para uma casa de acessórios em farmácia, porque em 1892 a família Delanne tinha sido atingida por uma catástrofe financeira, que obrigou-a a liquidar a loja da Passagem Choiseul.

Alexandre Delanne e sua esposa moravam então na Rua Saint-Honoré, perto da Igreja Saint-Roch, e somente ela assistiu ao enterro de seu filho Ernesto, que foi sepultado em Gray.

Se a esposa de Ernesto não era espírita, por ocasião da morte de seu marido, converteu-se, mas nunca teve o favor de receber uma comunicação dele.

Muitas vezes, especialmente com Gabriel Delanne, ela realizou sessões, porém jamais seu marido veio se manifestar.

Após os funerais de Ernesto Delanne, sua viúva foi se reunir com seu pai, que era comandante em Châlons.

A Sra. Alexandre Delanne, que havia recomeçado uma pequena loja comercial, morreu em 1894; após ser enterrada no cemitério de Bagneux, foi, em seguida, transladada, pelos cuidados de Gabriel, para o Père Lachaise, sendo seus restos colocados no jazigo da família, bem próximo do dólmen de Allan Kardec.

Depois de 1900, Gabriel Delanne havia deixado seu apartamento da Rua Manuel, para ir morar no Boulevard Exelmans, 40.

Foi lá que, a 2 de março de 1901, se extinguiu Alexandre Delanne, com a idade de 71 anos.

Esse homem, durante 40 anos, havia trabalhado pela divulgação do Espiritismo, pregando, ele mesmo, o exemplo e acolhendo com serenidade os reveses da fortuna, a morte de seu filho Ernesto e de sua esposa, cuja mediunidade lhe havia prestado tantos serviços.

Os funerais de Alexandre Delanne, inicialmente enterrado no Cemitério de Bagneux, como sua esposa, reuniram seus numerosos amigos; foram pronunciados discursos pelo General Fix, Laurent de Faget, Duval, Camille Chaigneau e Sra. Colin.

Suportando com coragem e resignação essa cruel prova, Gabriel Delanne, ele mesmo doente, não tinha podido usar da palavra. Na revista, assim se expressou:

“Batido pela fadiga e pela dor da separação, não pude dirigir a meu pai as palavras do afetuoso reconhecimento que meu coração sentia transbordar.

Quisera afirmar todos os meus agradecimentos para com ele.

Teria desejado tornar conhecida sua terna solicitude e seu amor pela família. Teria dito com qual devotamento admirável ele sempre me sustentou e que profundo interesse tomava pelo desenvolvimento do Espiritismo.

Diante de todos, eu lhe teria agradecido por me haver, desde a infância, ensinado essa magnífica Doutrina à qual devo hoje não estar abatido de tristeza. Teria lembrado seu infatigável ardor pela propaganda e feito ver que seu espírito, bem evoluído, compreendia os esplêndidos destinos reservados à nossa Doutrina, emancipadora de todas as ortodoxias e de todos os fanatismos.

As palavras que não pronunciei em seu túmulo venho publicar aqui, hoje, porque a primeira emoção passada me deixa mais livre o pensamento.

Tenho a certeza completa de que ele se juntou a todos os que amava, que o precederam no além.

Operário incansável, deixou nosso mundo visível, mas não para descansar das lutas terrestres.

Revigorado pelo amor dos seus, sinto e prevejo que ele prosseguirá seu apostolado.

Retorna à grande pátria do invisível, engrandecido e fortificado pelas provações tão corajosamente suportadas neste mundo.

Ele sempre me deu o exemplo do dever nobremente cumprido; sempre me sustentou moral e materialmente, para permitir que eu me consagrasse inteiramente ao Espiritismo.

Trabalhando ainda numa idade em que outros descansam, vinha em minha ajuda com um devotamento inesgotável.

Quero expressar-lhe, publicamente, meu reconhecimento e fazer saber a todos a grandeza de seu coração de pai, que não recuou diante de nenhum sacrifício para sustentar minha obra, que era também a sua.

Sei, seguramente, que, em virtude das leis da justiça eterna, ele usufrui hoje uma felicidade sem mescla e que continuará velando por mim e trabalhando pela difusão desta Doutrina que lhe era tão querida.”

Gabriel Delanne não se confinou na dor e continuou sua tarefa de propagandista espírita, não somente prosseguindo na publicação da revista, mas ainda organizando palestras e respondendo ao apelos dos que lhe solicitavam para ir às suas cidades fazer conferências.

  Fonte: Paul Bodier/Henri Regnaul - Gabriel Delanne - Sua Vida, Seu Apostolado e Sua Obra

ALEXANDRE DELANNE DESPEDE-SE DE KARDEC

Em nome dos espíritas dos Centros distantes

Pelo Sr. Alexandre Delanne

 

Um dos discursos proferidos na ocasião

do sepultamento do corpo de Allan Kardec

 

Mui caro Mestre.

Tantas vezes tive ocasião, nas minhas numerosas viagens, de ser junto a vós o intérprete dos sentimentos fraternos e reconhecidos de nossos irmãos da França e do Estrangeiro, que julgaria faltar a um dever sagrado se não viesse, em nome deles, neste momento, vos testemunhar o seu pesar.

Ah! não serei mais que um eco bem fraco, para vos dizer da felicidade daquelas almas tocadas pela fé espírita, que se abrigaram sob a bandeira de consolação e de esperança que entre nós foram implantadas tão corajosamente.

Muitos dentre eles certamente desempenhariam essa tarefa do coração melhor que eu.

Não lhes permitirão a distância e o tempo estar aqui, ouso fazê-lo, pois conheço a vossa benevolência habitual a meu respeito e a de nossos bons irmãos que represento.

Recebei, pois, caro Mestre, em nome de todos, a expressão dos pesares sinceros e profundos que a vossa partida precipitada da Terra vai fazer nascer por todos os lados.

Melhor que ninguém conheceis a natureza humana. Sabeis que ela necessita de amparo. Ide, pois, até eles, derramar ainda esperança em seus corações.

Provai-lhes, por vossos sábios conselhos e vossa poderosa lógica, que não os abandonais e que a obra a que vos dedicastes tão generosamente não perecerá, nem poderia perecer, porque está assente nas bases inabaláveis da fé raciocinada.

Soubestes, pioneiro emérito, coordenar a pura Filosofia dos Espíritos e pô-la ao alcance de todas as inteligências, desde as mais humildes, que elevastes, até às mais eruditas, que vieram até vós e hoje se contam modestamente em nossas fileiras.

Obrigado, nobre coração, pelo zelo e pela perseverança que pusestes em nos instruir.

Obrigado por vossas vigílias e vossos labores, pela vigorosa fé que nos transmitistes.

Obrigado pela felicidade presente que desfrutamos, pela felicidade futura que nos fizestes certeza, quando nós, como vós, tivermos entrado na grande pátria dos Espíritos.

Obrigado ainda pelas lágrimas que enxugastes, pelos desesperos que acalmastes e pela esperança que fizestes brotar nas almas abatidas e desencorajadas.

Obrigado, mil vezes obrigado, em nome de todos os confrades da França e do Estrangeiro! Até breve.

Alexandre Delanne

Fonte: Revista Espírita de maio de 1869

Carta do Sr. Alexandre Delanne

Sobre a Vida de Allan Kardec

Rouvray, 30 de março de 1870.

 

Senhores e amigos,

Encontro-me no campo há um mês, em busca do restabelecimento de minha saúde, fortemente abalada por seis meses de doença.

Por uma carta da Sra. Delanne, tomei conhecimento de que ireis inaugurar, amanhã, o monumento de nosso venerado mestre Allan Kardec. Eu me sentiria muito feliz se pudesse estar convosco para assistir a essa tocante cerimônia e prestar homenagem, de viva voz, uma vez mais, a esse Espírito de escol que, em me dando a fé esclarecida, deu-me, ao mesmo tempo, a calma e a resignação tão necessárias nesta Terra de provações.

Mas, se a distância e o esgotamento de minhas forças não me permitem acompanhar-vos pessoalmente, crede que meu coração, malgrado a impotência do meu corpo, permanece livre e se unirá aos vossos.

Ninguém saberia, melhor do que eu, reconhecer as raras qualidades de Allan Kardec e render-lhe justiça.

Muitas vezes, em minhas longas viagens, vi o quanto era ele amado, estimado e compreendido por todos os adeptos. Todos desejavam conhecê-lo pessoalmente a fim de lhe agradecerem por ele lhes ter dado a luz através de suas obras e lhe testemunharem sua gratidão e seu inteiro devotamento. Eles ainda o amam, até hoje, como a um verdadeiro pai. Todos lhe proclamam o gênio e o reconhecem como o mais profundo dos filósofos modernos. Contudo, estarão em condições de o apreciar em sua vida privada, isto é, em suas ações?

Puderam avaliar a bondade de seu coração, seu caráter tão firme quanto justo, a benevolência de que usava em suas relações, a caridade efetiva que inundava sua alma, sua prudência e sua extrema delicadeza? - Não!

Muito bem! É deste ponto de vista, senhores, que hoje vos quero falar do autor de O Livro dos Espíritos, já que por muitas vezes tive a honra de ser recebido em sua intimidade. Como testemunhei algumas de suas boas ações, creio não ser descabido fazer algumas citações aqui.

Um amigo meu de Joinville, o Sr. P..., veio ver-me certo dia. Fomos juntos à vila Ségur, a fim de visitar o mestre. No decorrer da conversa, o Sr. P... narrou a vida de privações por que passava um compatriota seu, já avançado em idade e a quem tudo faltava, inclusive agasalhos para se cobrir no inverno, e obrigado a proteger os pés desnudos em toscos tamancos. Esse homem de bem, entretanto, longe estava de se lastimar e, sobretudo, de pedir auxílio: era um pobre envergonhado.

É que uma brochura espírita lhe caíra sob os olhos, permitindo-lhe haurir na Doutrina a resignação para as suas provas e a esperança de um futuro melhor.

Vi, então, rolar uma lágrima compassiva dos olhos de Allan Kardec e, confiando ao meu amigo algumas moedas de ouro, disse-lhe: "Tomai-as para que possais prover às necessidades materiais mais prementes do vosso protegido. E, já que ele é espírita e suas condições não lhe permitem instruir-se tanto quanto ele desejaria, voltai amanhã. Sereis portador de todas as obras de que eu puder dispor, a fim de as entregar a ele".

Allan Kardec cumpriu a promessa e hoje o velhinho bendiz o nome do benfeitor que, não satisfeito em socorrer sua miséria, ainda lhe dava o pão da vida, a riqueza da inteligência e da moral. Alguns anos atrás, recomendaram-me uma pessoa reduzida à extrema miséria, expropriada violentamente de sua casa e jogada sem recursos no olho da rua, com a mulher e os filhos. Fiz-me intérprete desses infortunados junto ao mestre.

No mesmo instante, sem querer conhecê-los, sem mesmo inquirir de suas crenças (eles não eram espíritas), Allan Kardec forneceu-me os meios de os tirar da miséria, o que lhes evitou o suicídio, pois já haviam decidido libertar-se do fardo da vida, tornado pesado demais às suas almas desalentadas, caso tivessem que renunciar à assistência dos homens.

Enfim, permiti que eu narre ainda o seguinte fato, em que a generosidade de Kardec rivaliza com sua delicadeza.

Um espírita, residente num lugarejo situado a vinte léguas de Paris, havia pedido a Allan Kardec que lhe concedesse a honra de uma visita, a fim de que este assistisse às manifestações espíritas que com ele se produziam. Sempre solícito quando se tratava de prestar um obséquio, e atento ao princípio de que o Espiritismo e os espíritas devem assistir os humildes e os pequenos, logo partiu, acompanhado de alguns amigos e da Sra. Allan Kardec, sua estimada companheira.

Não teve por que se arrepender de sua resolução, porquanto as manifestações que testemunhou foram verdadeiramente notáveis. Mas, durante sua curta permanência ali, seu anfitrião foi cruelmente afligido pela perda súbita de uma parte de seus recursos. Consternados, os pobres dissimulavam o seu pesar tanto quanto lhes era possível.

Todavia, a notícia do desastre chegou a Allan Kardec e, no momento de partir, tendo-se informado da cifra aproximada do prejuízo, remeteu ao administrador da cidade uma soma mais que suficiente para restabelecer o equilíbrio financeiro da situação do seu hospedeiro. O lavrador só tomou conhecimento da intervenção de seu benfeitor após a partida deste.

Eu não pararia de falar, senhores, se me fosse dado lembrar os milhares de fatos deste gênero, conhecidos tão-somente por aqueles que ele socorreu; porque ele não aliviava apenas a miséria material, mas também levantava, com palavras confortadoras, o moral abatido, e isto sem que sua mão esquerda jamais soubesse o que dava a direita.

Antes de terminar, impossível resistir ao desejo de vos revelar este último fato. Uma tarde, certa pessoa de minhas relações, que passava por cruéis provações, mas que a todos ocultava sua miséria, encontrou na portaria uma carta lacrada, restrita a estas simples palavras: "Da parte dos bons Espíritos", contendo recursos suficientes para ajudá-la a sair da crítica situação em que se achava. Do mesmo modo que a bondade do mestre lhe descobrira o infortúnio, meu amigo, guiado por alguns indícios e pela voz do coração, logo reconheceu o seu anônimo benfeitor.

Eis o coração desse filósofo, tão desconhecido durante sua vida! A despeito de tudo, quem mais do que ele, tão bom, tão nobre, tão grande em suas palavras quanto em suas ações, foi mais alvo da injúria e da calúnia? E, contudo, não tinha como inimigos senão os que não o conheciam; porque, quando o apreciavam melhor, mesmo sem partilhar suas opiniões filosóficas, eram forçados a render homenagem à sua boa- fé.

Seus críticos, que dele não conheciam senão a bandeira, tentaram indispô-lo contra a opinião pública, sem averiguar se os boatos que produziam continham o menor fundamento. Mas ele empunhou essa bandeira tão altiva e firmemente que nenhuma mancha foi capaz de atingi-Ia, e a lama com que a queriam encobrir apenas sujou a mão dos panfletários.

Caro mestre, nobre e grande Espírito, paira em tua majestade sobre os que te amam e respeitam! Observa os que te são inteiramente devotados! Continua sobre eles a tua intervenção caridosa e protetora! Transmite às suas almas o fogo sagrado que te anima, a fim de que, profundamente convencidos dos imortais princípios que professaste, possam eles marchar sobre tuas pegadas, imitando tuas virtudes! Faze que reinem entre nós a concórdia, o amor e a paz, a fim de que possamos reunir-nos a ti, quando houver soado para nós a hora da libertação!...

Alexandre Delanne

Fonte: O Espiritismo na sua expressão mais simples e outros
opúsculos de Kardec, Ed. FEB.

Fontes: Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec (IPEAK)

Fontes: Vade Mecum Espírita

 

RELAÇÃO DE PERIÓDICOS ESPÍRITAS

 

Le Spiritisme - Organe De L'Union Spirite Française (1884 - 1895)

 

Le Progrès Spirite - Organe de La Fédération Spirite Universelle (1895 - 1912)

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Fundação da União Espírita Francesa - Relatório das Sessões de 24 de dezembro de 1882 e de 5 de janeiro de 1883 (Obra rara traduzida)

 

Paul Bodier/Henri Regnaul - Gabriel Delanne - Sua Vida, Seu Apostolado e Sua Obra (Material de pesquisa para montagem da página)