HERCULANO PIRES

O HOMEM NOVO

 (Lições de Espiritismo / Crônicas)

 

Sinopse da obra:

José Herculano Pires manteve, durante muitos anos, no jornal “Diário de São Paulo”, órgão dos Diários e Emissoras Associados, uma coluna de crônicas espíritas, na qual abordava temas de interesse geral relacionados com a doutrina codificada por Allan Kardec. Assinava-as com o pseudônimo de Irmão Saulo.

Nesta obra estão reunidas 39 das mais interessantes crônicas do autor, publicadas entre os anos 1969/1970.

Jornalista, filósofo, escritor e professor, Herculano Pires alcançou grande conceito dentro e fora do movimento espírita. Sua produção literária ultrapassa aos oitenta títulos; alguns deles constituem-se verdadeiras obras filosóficas.

Herculano dedicou a maior parte de sua existência em favor da Doutrina Espírita, seja buscando interpretá-la com fidelidade, seja defendendo-a dos ataques dos adversários.

Capítulo da obra:

Preconceito contra o Espiritismo

Ainda existe, em maior escala do que se pensa, o medo do Espiritismo. Há pouco, fomos procurados por uma pessoa que, sentindo evidentes perturbações de origem mediúnica, e tendo percorrido os consultórios de psiquiatria, vira-se obrigada a recorrer aos “recursos espirituais”, segundo dizia.

Quando soube que não estava tratando com um “espiritualista”, mas com um espírita, assustou-se de tal maneira, que viu-se forçada a confessar o seu medo. “Se eu soubesse que o senhor era espírita – declarou – não o teria procurado.”

A verdade é que, apesar disso, acabou se convencendo de que o Espiritismo poderia ajudá-la, e mais tarde tornou-se espírita. Mas não foi muito fácil arrancar-lhe da mente o pavor doentio que lhe haviam infundido.

Sacerdotes, pessoas da família, amigos e médicos, todos haviam contribuído para que o medo se enraizasse em sua alma. Terrível medo, que a desviava da única solução possível para o seu problema. E o que é mais curioso, a maior contribuição para esse estado de temor foi dado por certas publicações espiritualistas, que apesar de admitirem a reencarnação e a lei de causa-e-efeito, condenam a mediunidade, pintando-a com as mais negras pinceladas.

O preconceito anti-espírita assemelha-se muito à prevenção contra o Cristianismo, no mundo antigo. As pessoas que temem o Espiritismo não conhecem a doutrina, dão ao termo aplicações indevidas, perdem-se num cipoal de lendas e suposições a respeito das sessões espíritas.

Em geral nos acusam de endemoniados, necromantes, feiticeiros e coisas do mesmo teor, como faziam gregos e romanos com os cristãos primitivos. E essas deturpações do Espiritismo não são apenas orais, correndo entre pessoas simples. Figuram também em publicações eruditas, revistas, jornais, livros de ensaios e estudos, com signatários cultos.

Pitágoras já dizia que a Terra é a morada da opinião. E como a opinião é a coisa mais frívola que existe, a mais incerta e a mais irresponsável, não é de admirar que tanta gente opine sobre o que não conhece.

Mesmo entre os letrados, a opinião é um hábito enraizado. Mas é evidente que, quando se trata de uma doutrina espiritual, esposada por tantos homens de projeção no mundo das ciências e do pensamento, em todo o mundo, as pessoas de cultura, ou mesmo de mediana cultura, deviam ter mais cautela ao se manifestarem a respeito. Porque se é livre o direito de opinar, não é menos livre o direito de se julgar o senso de responsabilidade de quem opina.

O maior motivo de temer do Espiritismo é o próprio temor. Ou seja: é a covardia humana, essa terrível covardia que faz os homens estremecerem de horror diante do perigo de mudarem de posição diante da vida e do mundo.

O Espiritismo, entretanto, não exige outra mudança, senão a da concepção estreita de uma vida utilitarista e falsa, para a ampla concepção de uma vida espiritual, profunda e verdadeira. Quanto ao problema das relações com o mundo invisível, o Espiritismo não estabelece essas ligações, que existem na vida de todas as criaturas, mas apenas as explica e orienta, dando-lhes o verdadeiro sentido no processo da existência: Temer o Espiritismo é temer a verdade, que os seus princípios nos revelam, apesar de todos os que lutam para deturpá-los.

Herculano Pires

Capítulo da obra:

Resignação espírita

Uma das acusações que se fazem ao Espiritismo é a de levar o homem ao conformismo. “Os espíritas se conformam com tudo, – escrevem-nos – e dessa maneira acabarão impedindo o progresso, criando entre nós um clima de marasmo, favorável às tiranias políticas do Oriente. A idéia da reencarnação é o caldo de cultura do despotismo, pois as massas crentes se entregam a qualquer jugo.”

Muitos confundem a resignação espírita com o conformismo religioso. Mas, contraditoriamente, acusam o Espiritismo e não acusam as religiões. Por outro lado, tiram conclusões teóricas de fatos que podem ser observados na prática. A idéia da reencarnação não é nova, não nasceu com o Espiritismo, e não precisamos teorizar a respeito, pois temos toda a história da humanidade ante os olhos, para nos mostrar praticamente os seus efeitos.

Vamos, entretanto, por ordem. E tratemos, primeiro, da resignação e do conformismo. A resignação espírita decorre, não de uma sujeição místico-religiosa a forças incontroláveis, mas de uma compreensão do problema da vida.

Quando o espírita se resigna, não está se submetendo pelo medo, mas apenas aceitando uma realidade à qual terá de sujeitar, exatamente para superá-la, para vencê-la. Não é, pois, o conformismo que se manifesta nessa resignação, mas a inteligente compreensão de que a vida é um processo em desenvolvimento, dentro do qual o homem tem de se equilibrar.

Acaso não é assim que fazemos todos, espíritas e não-espíritas, em nossa vida diária? O leitor inconformado não é também obrigado, diariamente, a aceitar uma porção de coisas a que gostaria de furtar-se? Mas a diferença entre resignação ou aceitação, de um lado, e conformismo, de outro, é que a primeira atitude é ativa e consciente, enquanto a segunda é passiva e inconsciente. O Espiritismo nos ensina a aceitar a realidade para vencê-la.

“Se a doença o acossa, – dizem – o espírita entende que está sendo vítima do fatalismo cármico, do destino irrevogável. Se a morte lhe rouba um ente querido, ele acha que não deve chorar, mas agradecer a Deus. Se o patrão o pune, ele se submete; se o amigo o trai, ele perdoa; se o inimigo lhe bate na face esquerda, ele lhe oferece a direita. O Espiritismo é a doutrina da despersonalização humana.”

Mas acontece que essa despersonalização não é ensinada pelo Espiritismo, e sim pelo Cristianismo. Quando o Espiritismo ensina a conformação diante da doença e da morte, o perdão das ofensas e das traições, nada mais está fazendo do que repetir as lições evangélicas. Ora, como o leitor acusa o Espiritismo em nome do Cristianismo, é evidente que está em contradição. Além disso, convém esclarecer que não se trata de despersonalização, mas de sublimação da personalidade.

O que o Cristianismo e o Espiritismo querem é que o homem egoísta, brutal, carnal, agressivo, animalesco, seja substituído pelo homem espiritual. A “personalidade” animal deve dar lugar à verdadeira personalidade humana.

Quanto ao caso das doenças, seria oportuno lembrar ao leitor as curas espíritas. Não chega isso para mostrar que não há fatalismo cármico? O que há é a compreensão de que a doença tem o seu papel na vida humana. Mas cabe ao homem, nesse terreno, como em todos os demais, lutar para vencê-la.

O Espiritismo, longe de ser uma doutrina conformista, é uma doutrina de luta. O espírita luta incessantemente, dia e noite, para superar o mundo e superar-se a si mesmo. Conhecendo, porém, o processo da vida e as suas exigências, não se atira cegamente à luta, mas procurando realizá-la com inteligência, num constante equilíbrio entre as suas forças e o poder dos obstáculos.

Herculano Pires

Fontes: Conferências dos 100 anos do Nascimento de Herculano Pires (Heloisa Pires, com o tema "O homem no mundo")

Fontes: Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires

Fontes: A Bíblia do Caminho

"A obra de Kardec é a bússola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os garimpeiros de novidades nos querem vender. Essa obra repousa na experiência de Kardec e na sabedoria do Espírito de Verdade. Se não confiamos nela, é melhor abandonarmos o Espiritismo. Não há mestres espirituais na Terra nesta hora de provas, que é semelhante à hora de exames numa escola do mundo. Jesus poderia nos responder, diante da nossa busca comodista de novos mestres, como Abraão respondeu ao rico da parábola: Por que eu deveria mandar-vos novos mestres, se tendes convosco a codificação e os evangelhos?"

Herculano Pires "O Zelador da Doutrina Espírita"

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Allan Kardec - O Evangelho Segundo O Espiritismo (Obra de Allan Kardec - "O Evangelho Segundo O Espiritismo" - Bem Aventurados os Pobres de Espírito - Missão do homem inteligente na Terra - Cap. VII)

 

Herculano Pires - O Homem Novo PDF