Dr. Anastasio García López

o grande médico homeopata

o fiel escudeiro de ALLAN KARDEC

OS PIONEIROS DO ESPIRITISMO NAS TERRAS DA ESPANHA

(1823 - 1897)

 

OBRAS RARAS TRADUZIDA

 

UM DOS PRIMEIROS A PROPOR O ESPIRITISMO

COMO  DISCIPLINA ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA NA ESPANHA DO SÉCULO XIX

Biografia de Anastasio García López:

O Dr. D. Anastasio García López nasceu em Ledaña, província de Cuenca em 1823.

D. Anastasio García Lopez era um homem de inteligência clara, uma notável franqueza e animada desejo mais nobre. Ele era um médico e praticava a homeopatia; publicou vários livros profissionais.

Órfão de pai à tenra idade de cinco anos, os constantes cuidados maternais conseguiram que em 1838 iniciasse estudos de Filosofia no Seminário e Instituto de ensino médio de Múrcia, onde obteve diploma em Filosofia com as melhores notas.

Em 1841 começou os estudos de médico cirurgião no Colégio de Medicina São Carlos de Madri, até que em 1848 terminou sua carreira com nota dez em todas as matérias, conseguindo o título de Licenciado.

Como Licenciado em Medicina e Cirurgia, desenvolveu o seu trabalho em diferentes lugares da Península, sendo médico titular em Cebreros (Ávila), Navalperal de la Mata (Cáceres), em pouco tempo foi subdelegado de Medicina, comissionado pelo Governo para estudar uma epidemia especial nos lugares de Casatejada e Serrejón, e analisar as águas de Fuente del Oro; subdelegado de Saúde e titular de Medinaceli; médico diretor, por concurso de méritos, do Hospital Provincial de Sória.

Entrando, também por concurso de méritos, no Corpo de médicos diretores de banhos minerais da Espanha, desenvolvendo essa atividade em Cestona, Alhama de Aragón, Panticosa, Ledesma, Caldas de Oviedo e Archena; catedrático numerário de Fisiologia e Higiene e auxiliar de Medicina legal e Toxicologia na Universidade de Salamanca, onde, em 1868, obteve o grau de doutor em Medicina, pronunciando um notável discurso sobre o crupe e seu tratamento homeopático, que foi muito aplaudido; regente, mais tarde, da cátedra de Psicologia e Lógica na Universidade Central, onde passou com nota dez um curso especial sobre língua grega e outro de Economia política; foi deputado republicano nas Cortes Constituintes de 1873.

Também levou sua iniciativa a Barcelona em 1889, para a fundação de uma Academia e de um Hospital homeopático, sendo criada depois a Academia Homeopática Barcelonesa, da qual foi presidente de honra o Dr. García López. A Revista de Homeopatia foi o órgão oficial da mencionada Academia.(1)

(1) A maior parte deste texto baseia-se em um artigo necrológico publicado na revista El Propagador Homeopático, Ano II, nº 1, Madri, maio de 1897. (Tradutora: Teresa da Espanha)

O Dr. García López foi propagador infatigável da Doutrina Espírita e da medicina homeopática. Nesse senso, foi autor de inúmeros artigos, livros e opúsculos interessantes.

Suas obras do Espiritismo são: Exposição e defesa das verdades fundamentais do Espiritismo em 1872, Refutação do materialismo em 1874 e diversas palestras sobre Cosmologia, Antropologia e Sociologia.

A Revolução Liberal de 1868, na Espanha, destituiu a Rainha Isabel II do trono e permitiu o surgimento da Primeira República Espanhola em 1873. Esta revolução teve intensa participação de espíritas e maçons que lutavam inclusive pela implantação da liberdade de culto e da laicidade do Estado. Com maior liberdade, a propaganda espírita conseguiu ampla divulgação e penetração entre as massas e também entre a classes mais intelectualizadas da sociedade espanhola deste período.

Em 1873, durante o período republicano, o deputado espírita José Navarrete propôs uma emenda na Lei de Educação Pública que incluía a disciplina de Espiritismo como matéria obrigatória nos currículos de ensino secundário e das faculdades de Filosofia, Ciências e Letras da República Espanhola. Esta emenda, recebeu ainda a assinatura de outros quatro deputados espíritas: Luís F. Benítez de Lugo, Anastasio García López, Manuel Corchado y Juarbe e Mamés Redondo Franco.

Como justificativa para a proposição, os deputados assim se manifestaram:

Os Deputados que subscrevem, sabendo que a causa inicial da confusão que reina na nação espanhola, na esfera da inteligência, na região do sentimento e no campo das obras, é a falta de uma fé racional, é a carência no ser humano de um critério científico para ajustar suas relações com o mundo invisível, relações profundamente perturbadas pela influência fatal das religiões positivas, têm a honra de submeter à aprovação da Assembleia Constituinte a seguinte emenda ao projeto de lei sobre a reforma do ensino secundário e das Faculdades de Filosofia, Letras e Ciências.

Junto à proposta de emenda, foi elaborado um Programa de Curso Elementar de Espiritismo, que contemplava os seguintes conteúdos: Noções de Cosmologia, Antropologia e Filosofia, Catecismo da Doutrina Kardequiana, Deus, a Criação, Conceito de Espírito, Lei do Progresso, Vida Planetária e Mundos Habitados, Magnetismo e fluidos, código moral e religioso, Ciência Espírita, a vida futura e reencarnação, etc.

Infelizmente, antes que o projeto fosse discutido e aprovado pelo Parlamento Espanhol, um golpe de Estado liderado pelo general Martínez Campos deu fim a Primeira República Espanhola e restabeleceu a monarquia na pessoa de D. Alfonso de Bourbon, filho de Isabel II. Consequentemente, a influência dos espíritas na política espanhola, foi diminuída após este acontecimento.

Mas mesmo assim o movimento espírita espanhol continuou atuando junto à sociedade, pois foi amplamente conhecida a atuação das sociedades espíritas na criação de escolas de ensino laico, que atendia a uma parcela significativa da população que não contava com políticas públicas de educação ou condições de pagar pelo ensino ministrado em colégios católicos.

Este acontecimento histórico, com todo o seu contexto, é um farto manancial de informações que podem nos inspirar no presente a buscar soluções para o desenvolvimento da Educação Espírita, bem como, estabelecer condições para que o conhecimento espírita cumpra seu papel de renovador social. (2)

(2) Barrera, Florentino. Auto-De-Fé de Barcelona, Buenos Aires: Ediciones Vida Infinita, 2008.

Em 1888 tem lugar Primeiro Congresso Internacional espírita em Barcelona, organizada pelo Centro Barcelonés de Estudios psicológicos. Aonde a atuação Dr. Anastasio García López teve um papel relevante sendo que aderiram ao Congresso sessenta e oito entre os grupos, centros e sociedades peninsulares, seis colonial americano, dez da América espanhola, dois dos Estados Unidos, e seis franceses, quatro belgas, dois italianos, um russo e um romeno. Os jornais espíritas representados que ascenderam a vinte sete.

A sessão preparatória foi em 8 de setembro, às quatro da tarde, sob a presidência do Vizconde de Torres Solanot. Sendo nomeado presidente honorário Fernández Colavida e os futuros trabalhos do Congresso foram organizados. Celebrando três sessões pública e cinco sessões privadas. As conclusões aprovadas no Congresso são os seguintes:

O primeiro Congresso Internacional Espírita (1888) afirma e proclama a existência do Espiritismo, como a ciência abrangente e progressiva. São seus fundamentos: A existência de Deus, mundos habitados incontáveis, a reencarnação nas fases incontáveis na vida de cada ser e a persistência eterna do espírito, demonstração experimental da sobrevivência da alma humana pela comunicação mediúnica com os espíritos, recompensas e penalidades como uma consequência natural dos atos, progresso infinito, comunhão universal dos seres, solidariedade.

Em 1892 ocupou o Congresso de Madri, menos perceptível do que Barcelona. O presidente foi D. Anastasio García López. A sessão preparatória foi realizada em 19 de outubro, a abertura 20 e a outra nos dias 21, 22, 23 e 24.

Foi colaborador incansável do maior periódico espírita da Espanha a Revista Mensal El Criterio Espiritista que foi fundada por Alverico Perón.

Fundador em 1893 do Jornal Fraternidad Universal, La Segunda Epoca de El Criterio Espiritista. Organo Oficial de la Sociedad de Su Nombre. Revista de Estudios Psicologicos que teve a sua duração até o final de sua vida. Juntamente com a uma Sociedade espírita denominada “La Fraternidad Universal”.

O Dr. Anastasio García López, faleceu no dia 1 de maio de 1897 na cidade de Sevilha, aos setenta e três anos de idade. (3)

(3) Grupo de Estudos Avançados Espíritas - GEAE. (Boletim Quinzenal de Distribuição Eletrônica)

Como me tornei espírita:

Anastasio García López

Revista “El Buen Sentido” (Lérida, outubro de 1882)

(Tradutora: Teresa da Espanha)

Quando o meu bom amigo Huelbes (1) publicou no El Buen Sentido um artigo dirigido a explicar como ele chegou a ser espírita, convidando outros a escreverem também sobre sua conversão a essa doutrina, acharam que isso era um pensamento aceitável, como todos os seus, e considerei-me obrigado a seguir o seu exemplo, correspondendo assim aos desejos do benemérito adalide da nossa escola, D. José Amigó y Pellicer, a quem faz tempo ofereci enviar esta carta, que redigi com a lembrança das minhas crenças passadas, sendo, portanto, expressão fiel da evolução do meu espírito desde que tenho uso de razão.
(1) Joaquín Huelbes Temprado.

Sendo muito criança, com pouco mais de três anos, perdi o meu pai, e a minha educação ficou, por conseguinte, aos exclusivos cuidados da minha virtuosa mãe, que me incutiu tudo aquilo que constitui o dogma da igreja católica romana. Porém, já naquela tenra idade, a minha razão infantil rebelava-se um tanto contra aquilo que me diziam serem mistérios, e eu fazia inúmeras perguntas à minha mãe e a outras pessoas merecedoras do meu respeito, ora sobre o pecado original, ora sobre a confissão e a comunhão, ora sobre a mudança substancial do vinho e da hóstia em carne e sangue de Cristo, e sobre uma porção de assuntos que resistiam-se à minha inteligência, tornando-me, quase sempre, até impertinente; então, era-me imposto silêncio, com a advertência de que todas essas e outras coisas, eu devia acreditar nelas sem jamais me inspirarem dúvidas, porque a fé naquilo que a Igreja ensinava devia ficar por cima do que a minha razão me sugerisse.

De tanto me incutirem essas ideias, cheguei a ser católico, apostólico, romano tão fervente, que teria enfrentado o martírio antes de abjurar das minhas crenças, ficando entusiasmado e até invejando a sorte dos santos que tinham dado a vida para defender a religião católica.

Terminada a minha instrução primária e de gramática latina, entrei para o Instituto Provincial de Múrcia em uma época em que o liberalismo já imperava na Espanha, e o professorado naquela cidade era um viveiro de jovens ilustrados que vertiam nos seus alunos ideias inteiramente opostas àquelas que eu recebera na escola e no lar doméstico. Meus estudos de psicologia, com Condillac e outros autores de seu mesmo sistema, que eram aqueles assinalados no texto; as noções que me foram dadas sobre astronomia, ciências naturais e físico-químicas; tudo aquilo que, em uma palavra, formava o conjunto do meu ensino secundário, abriu para mim novos horizontes e o meu espírito entrou em uma fase inteiramente oposta à anterior.

Meu gosto pela leitura fez que eu não ficasse limitado aos livros das matérias acadêmicas, devorando muitos outros com a mesma avidez com que antes lera “O Ano Cristão”, “O Martirológio”, “O Flos Sanctorum”, “O Evangélico Triunfo” e muitos outros do gênero, que tinham contribuído para fortalecer a minha fé e que depois substituí pelo “A Moral Universal” e “O Bom-Senso”, do barão d'Holbach, pelo “A Origem dos Cultos”, de Dupuy, “As Ruínas de Palmira”, de Volvey, e outros análogos. Passei, então, do fanatismo católico ao fanatismo materialista, em cujas últimas crenças afirmei-me mais ainda quando comecei a carreira de médico, cujos estudos, do modo como eram feitos na minha época, conduziam a elas, como ainda hoje conduzem.

Deu-se em mim uma circunstância especial que preparou a minha razão para continuar mais tarde por outra trilha, como foi compatibilizar, com a carreira de medicina, a carreira de ciências filosóficas, sendo o motivo de me interessar pelo que na época era chamado de filosofia alemã; e atravessando pela multidão de dúvidas que sempre assaltavam meu espírito, a derradeira evolução das minhas crenças foi o panteísmo.

Nunca fui cético ou eclético, e sentia uma necessidade irresistível de conhecer as causas de todos os fenômenos, tanto de ordem física como de ordem moral; e sendo que desde que a minha razão teve a consistência que lhe é própria, não me era oferecida explicação de todos os problemas da vida, de todos os fenômenos da natureza nem pelo catolicismo romano, nem pelo materialismo, nem pelo panteísmo, fui passando por todas essas doutrinas, as quais eu admitia e rejeitava depois, ficando afinal com a panteísta, como sendo a que deixava menos lacunas para as aspirações da minha inteligência e da minha consciência. Porém, mesmo assim, o meu espírito não ficava satisfeito por completo, porque ele aspirava sempre a buscar o porquê de todas as coisas.

Na ordem fisiológica, eu conhecia o funcionamento orgânico, mas a histologia e a química também não explicavam o sonambulismo natural ou o provocado, dos quais eu tivera ocasião de observar muitos casos, como também outros de pressentimentos e adivinhações em vários estados patológicos de alguns dos meus pacientes.

Também não me era dada explicação pela química orgânica ou pela estrutura dos tecidos, dos estados de letargia prolongados, das mortes aparentes, ou do fato curiosíssimo, que eu tinha lido, de existirem pessoas que por uma educação especial conseguiam adquirir condições fisiológicas para ficarem voluntariamente submersas em uma morte temporal, deixando em suspenso por longo tempo a circulação, a respiração, a nutrição e as secreções, como alguns faquires da Índia fazem. Muitos outros fenômenos de ordem fisiológica e patológica, cuja causa em vão eu pesquisava, eram um incentivo para buscar teorias ou inventar hipóteses que me fornecessem uma explicação para esses fatos.

Na ordem moral, eu buscava também a justificação para tantos acontecimentos, ao parecer anômalos, contraditórios e nada equitativos ou harmônicos. Por que existem seres condenados a viverem na miséria e na ignorância, sendo sua vida um encadeamento de todo gênero de dores e sofrimentos, apesar de observarem uma conduta moderada e de terem condições orgânicas e de espírito para entrarem na participação do bem-estar da humanidade, enquanto existem tantos malvados e tantos imbecis que nascem e vivem no meio da opulência, sendo a sua uma vida de intermináveis prazeres? Por que existem, ao parecer, tantas injustiças sociais, tantas iniquidades na humanidade, tantas desigualdades entre os homens? Qual é a finalidade dos seres que nascem e morrem sem terem preenchido missão alguma na Terra? Estes e outros muitos eram os problemas eu vinha propondo a mim mesmo, procurando sua razão de ser na hipótese do panteísmo, do ateísmo e do espiritualismo teológico, sem que nenhuma delas deixasse satisfeito o meu entendimento e nem a minha consciência.

Algumas vezes ouvira falar em Espiritismo, porém nada tinha lido ou visto e julgava como absurdo a pouca coisa que eu conhecia dessa doutrina, apesar de já naquela época terem-se me apresentado espontaneamente certos fenômenos insólitos que eu explicava a mim mesmo como sendo produto de ações de magnetismo biológico, entre eles a perda de um filho meu acontecida quando estava com 12 anos de idade.

O primeiro fato foi um pressentimento da sua morte estando ele em perfeita saúde; ao pouco tempo desse pressentimento, ele foi invadido por um tifo, que o arrebatou de mim em poucos dias. O segundo fato foi a aparição desse filho querido, vista por mim na mesma noite do seu falecimento, quando estava às escuras no meu dormitório; ele se apresentava como formado por um gás luminoso, parecido com a luz que um fósforo emite se esfregado entre os dedos quando a gente está no escuro. Esses dois fatos impressionaram fortemente o meu espírito, mas procurei explicação para eles dentro da minha filosofia panteísta e das minhas teorias sobre o magnetismo.

Apesar disso, a dúvida apossava-se do meu espírito sobre esses fenômenos e eu elaborava hipóteses no meu pensamento para buscar explicações que satisfizessem melhor a minha razão, e algumas delas estavam de acordo, como pude ver depois, com a doutrina espírita que eu não conhecia. E tanto isso é verdade, que tendo publicado uma novela, intitulada “A magia do Século XIX”, por encomenda de um editor, sem que eu soubesse ou tivesse conhecimento saiu uma novela que contém a narração de muitos dos fenômenos espíritas explicados conforme essa doutrina.

Quando tive a aparição do meu filho, entrou em mim um grande desejo de comparecer em alguma das reuniões dos espíritas, e averiguei que alguns deles se juntavam em casa do então coronel de engenheiros, Sr. Pérez de Rosas. Quis ser apresentado a esse cavalheiro e, obtido seu consentimento para assistir às sessões semanais, compareci à primeira que houve depois da minha visita. Eu não conhecia nenhuma das pessoas que formavam aquela tertúlia, cujas conversas e linguagem eram desconhecidas para mim. Falaram-me das faculdades mediúnicas de vários dentre eles, coisa que de início não compreendi até que fui vendo o que era feito na reunião.

Devo confessar que as minhas primeiras impressões foram desfavoráveis e pensava achar-me em uma reunião de ilusos, carentes de bom-senso. Convidaram-me para perguntar o que quisesse a qualquer um dos médiuns e, estando sentado perto do Sr. Huelbes, ao qual estava vendo pela primeira vez, ele me disse que, se comparecessem à nossa evocação espíritos que inspirassem as respostas para as minhas perguntas, ele as passaria para mim imediatamente.

Evocamos Samuel Hahnemann, e quando o Sr. Huelbes escreveu: “Aqui está”, comecei a propor uma série de problemas dificílimos sobre medicina homeopática; nem bem tinha formulado o primeiro, e o médium já estava começando a escrever com admirável rapidez, preenchendo folhas cuja leitura me surpreendeu pela correção do estilo e pelos conceitos elevados com que resolvia as questões que eu colocava. Entusiasmado com essa experiência, não prestei atenção aos outros fatos da sessão, e para mim era inexplicável a maneira como eram escritos aqueles magníficos artigos que poderiam até serem publicados em um jornal científico, assim de repente e sem qualquer mediação prévia, em meio ao barulho e às conversas existentes na sala, por uma pessoa não versada nas ciências médicas, já que o Sr. Huelbes, mesmo tendo estudado Medicina anos depois, na época era muito jovem e estava cursando Direito na faculdade.

Minha surpresa aumentou quando, terminadas as comunicações sobre questões de homeopatia, evoquei o espírito do meu filho e o Sr. Huelbes disse que estava vendo-o tal como ele era quando vivo; e apesar de não tê-lo conhecido e de eu não ter fornecido a ele nenhum dado, descreveu o menino tal como ele tinha sido, detalhando suas feições, sua cor, a roupa com que foi amortalhado e todas as minúcias necessárias para me convencer de que realmente o Huelbes estava vendo o meu filho. Este, depois, deu-me uma comunicação da nossa vida íntima, empregando o estilo e certas frases, próprias e características dele, em termos tais que, quando Huelbes a leu para mim, acreditei estar ouvindo o meu filho falar. Para que não restasse em mim a menor dúvida, a comunicação era assinada com a inicial E, e o nome do meu filho era Emílio, fato que o Sr. Huelbes ignorava, aliás, como todas as pessoas daquela reunião.

Ao voltar para casa a minha cabeça assemelhava-se a um vulcão. Não consegui dormir em toda aquela noite e na manhã seguinte a minha primeira providência foi ir até a livraria de Bailly-Balliere para comprar todas as obras que houvesse sobre Espiritismo. Abrira-se para mim um novo horizonte, tinha encontrado a chave de todos os problemas que por tantos anos agitavam o meu espírito, buscando a causa e a explicação deles em todas as filosofias, sem que nenhuma delas tivesse jamais deixado satisfeita a minha razão nem a minha consciência. Por alguns meses fiquei entregue totalmente à leitura dos livros de Allan Kardec, assistia as reuniões da casa do Sr. Pérez de Rosas, minha mulher e meus filhos também se tornaram espíritas, dedicando-nos, em minha casa e com as pessoas da minha família, a ensaiar a produção de fenômenos, obtendo coisas tão portentosas como nunca depois vi em nenhum círculo dentre os muitos em que compareci.

Dois dos meus sobrinhos aconteceu que também eram médiuns com muitas faculdades, entre outras o sonambulismo lúcido com visão do futuro. Com esses elementos consegui obter, não somente a comprovação experimental da verdade sobre as minhas novas crenças, como também uma extensa propaganda entre os meus parentes e nas minhas relações sociais, colocando, a partir de então, a minha atividade ao serviço da escola espírita, sem receio às censuras ou ao ridículo de que com frequência tenho sido objeto, e muito menos às excomunhões que os bispos de Salamanca e Burgo de Osma fulminaram contra mim por causa de um folheto que publiquei, intitulado “Exposição e defesa das verdades do Espiritismo”.

Eis aqui, resumido, como me tornei espírita e o porquê de continuar nessas crenças. Encontrei nelas o conceito que a minha consciência buscava sobre a causa primeira; conheci, até onde é possível à inteligência do homem na Terra, o Deus da ciência, muito diverso do Deus das religiões positivas; o Espiritismo não era mais rejeitado pela minha razão, sendo que, despojado da ontologia com que ele me foi dado a conhecer, estava de posse de meios para demonstrar, prática e experimentalmente, a existência do espírito, a perpetuidade do ser, sua permanente individualidade através de múltiplos organismos e em muitos mundos, constituindo todos os espíritos a humanidade espalhada por todo o Universo e sendo, portanto, cada planeta uma cidade habitada por seres inteligentes e passíveis de aperfeiçoamento.

A partir de então, tive a solução de todas as minhas dúvidas passadas, consegui ver resolvidos todos os problemas da vida individual e social, compreendi a evolução como uma lei iniludível e a religião harmonizada com a ciência. Dissiparam-se os fatos sobrenaturais a que tão refratária tinha sido sempre a minha razão e vi que esses fenômenos portentosos, referidos como uma realidade em todas as épocas e em todas as civilizações, eram subordinados a leis naturais até então ainda não conhecidas nem investigadas e que apenas com a doutrina espírita era possível se encontrar para elas uma causalidade e uma razão de existir. Não ficou mais impossível para mim a revelação, pois compreendi a evidência das comunicações entre os vivos e os espíritos que estão na erraticidade ou em vida livre e, portanto, a ciência harmonizada com a fé raciocinada encontrava um auxiliar nessas revelações para ampliar a esfera dos seus conhecimentos.

O Espiritismo fazia-me ver as leis providenciais na criação inteira e no avanço e desenvolvimento da humanidade; compreendi a religião única e universal, sem templos, culto ou sacerdotes, porque seu templo é o espaço infinito e a infinidade de mundos que giram eternamente no imenso pélago da matéria cósmica, cuja essência é a inteligência absoluta e cujo dogma é o trabalho que eleva a alma a Deus, o estudo das leis da natureza, fazendo compreender cada vez melhor a Deus, e a prática da caridade e o amor por todos os seres; e com isso o espírito progride e se aprimora eternamente, desaparecendo esses mitos de inferno e purgatório e da beatitude imóvel das religiões positivas, como tantos outros erros que só têm servido de empecilho para o progresso humano.

É verdade que, apesar desta amplificação da minha razão pelas verdades do Espiritismo, resta ainda uma aspiração em minha alma, que é adentrar problemas que a minha inteligência e consciência me propõem sem encontrar para eles uma solução satisfatória: mas o Espiritismo ensina-me também que não posso, nas condições atuais da minha existência, alcançar essas esferas de conhecimentos que eu desejaria possuir, sendo que até nas minhas dúvidas e ignorância ele me sustenta e encoraja, porque chegará um tempo no qual, pelos sucessivos aprimoramentos que acumularei nas milhares de vidas que viverei em milhares de mundos, a minha inteligência ter-se-á aberto em novas faculdades que ainda não possui e serão mais profundas e extensas as que agora tem, sendo acrescentados em proporção a isso os meus conhecimentos sobre Deus e suas obras, ou seja, sobre a Natureza, e irei satisfazendo esse desejo que possuo de saber sempre mais.

E eis aqui a explicação de como e porquê eu sou espírita.

Anastasio García López

Fontes: Curso Espírita (Anastasio García López / Biografía)

Fontes: Grupo Espírita de La Palma (Grandes figuras del Espiritismo español)

"Quando tive a aparição do meu filho morto, entrou em mim um grande desejo de comparecer em alguma das reuniões dos espíritas, e averiguei que alguns deles se juntavam em casa do então coronel de engenheiros, Sr. Pérez de Rosas. Quis ser apresentado a esse cavalheiro e, obtido seu consentimento para assistir às sessões semanais, compareci à primeira que houve depois da minha visita. Eu não conhecia nenhuma das pessoas que formavam aquela tertúlia, cujas conversas e linguagem eram desconhecidas para mim. Falaram-me das faculdades mediúnicas de vários dentre eles, coisa que de início não compreendi até que fui vendo o que era feito na reunião."

Anastasio García López "Como me tornei espírita"

"O Espiritismo fazia-me ver as leis providenciais na criação inteira e no avanço e desenvolvimento da humanidade; compreendi a religião única e universal, sem templos, culto ou sacerdotes, porque seu templo é o espaço infinito e a infinidade de mundos que giram eternamente no imenso pélago da matéria cósmica, cuja essência é a inteligência absoluta e cujo dogma é o trabalho que eleva a alma a Deus, o estudo das leis da natureza, fazendo compreender cada vez melhor a Deus, e a prática da caridade e o amor por todos os seres; e com isso o espírito progride e se aprimora eternamente, desaparecendo esses mitos de inferno e purgatório e da beatitude imóvel das religiões positivas, como tantos outros erros que só têm servido de empecilho para o progresso humano."

Anastasio García López "Como me tornei espírita"

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Biografia de Anastasio García López (Como me tornei Espírita) (Revista “El Buen Sentido” (Lérida, outubro de 1882)

 

La Fraternidad Universal (La Segunda Epoca de El Criterio Espiritista) anos del 1893 - 1894 - Editor Anastasio García López (Esp.)
 

Anastasio García López - Exposição e defesa das verdades fundamentais do Espiritismo (Refutação do Folheto Intitulado a cátedra dos curiosos, publicado no Jornal Católico “España con Honra” em 1872) (Obra rara traduzida)

 

Anastasio García López - Refutação do materialismo (Discurso pronunciado pelo sr. Anastasio García López na sessão de controvérsia no dia 16 de abril de 1873, respondendo aos argumentos expostos pelos materialistas na Sociedade Espírita Espanhola) (Obra rara traduzida)

 

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