FRANEK KLUSKI

O GRANDE MÉDIUM POLONÊS

O REI DOS MÉDIUNS

OS GRANDES MÉDIUNS DE EFEITOS FÍSICOS

(1874 - 1949)

 

OBRA RARA TRADUZIDA

 

Ectoplasta [do grego ektós + plas (ma) + -ta] - Médium de efeito físico que empresta potencial ectoplásmico para materialização de Espírito ou objeto espiritual.

Ectoplasma [do grego e do latim, respectivamente: ektós + plasma]- 1. Biologia: parte periférica do citoplasma. 2. Parapsicologia: termo criado por Charles Richet para designar a substância visível que emana do corpo de certos médiuns. 3. Para a ciência espírita, designa a substância viscosa, esbranquiçada, quase transparente, com reflexos leitosos, evanescente sob a luz, e que tem propriedades químicas semelhantes às do corpo físico do médium, donde provém. É considerada a base dos efeitos mediúnicos chamados físicos, como a materialização, pois através dela os Espíritos podem atuar sobre a matéria.

Biografia de Franek Kluski:

Na primeira metade do século XX a imprensa polonesa publicou com grande alarde sobre os casos de materializações de espíritos através do médium Franek Kluski.

O médium Franek Kluski, cujo nome verdadeiro foi Teofil Modrzejewski nasceu na Polônia. Franek Kluski possuía faculdades latentes mediunidade de efeitos físicos e a mediunidade intelectual com notáveis dons psíquicos, que é uma combinação muito rara.

O Sr. Franek Kluski, de Varsóvia, tem cinquenta anos; é homem de estatura média, um tanto magro, com temperamento neurartrítico. Sua saúde geral é boa. Não apresenta nenhuma tara orgânica. O exame do sistema nervoso não revela nada além de grande excitabilidade. Os reflexos são muito exagerados e há áreas de hiperestesia acentuada na nuca e na extremidade superior direita, principalmente no antebraço. O campo visual e as reações pupilares são normais.

A hipersensibilidade moral é ainda mais acentuada do que a física. Franek é extraordinariamente impressionável e emotivo. De resto, sua psicologia é a de todos os médiuns superiores, e não vamos nos deter agora nas bem conhecidas peculiaridades dos metapsiquistas.

É evidente que as características, qualidades, originalidades, defeitos ou taras, sejam orgânicas ou psíquicas, que se observam nos grandes artistas e nos grandes médiuns, são simplesmente o acompanhamento inevitável ou o preço de seu gênio ou de sua mediunidade. Essas particularidades não poderiam, de forma alguma, nos fazer compreender a natureza essencial ou o mecanismo do gênio ou da mediunidade.

Franek Kluski exerce uma profissão liberal e também é escritor e poeta. Ele é muito simpático e atraente, de grande inteligência, muito instruído e é poliglota. Com o mais completo desinteresse e por amor à ciência, consentiu em pôr seus dons maravilhosos a serviço, em primeiro lugar, dos seus mais eminentes compatriotas; depois, a serviço do Instituto Metapsíquico. Ele tem exercido regularmente sua mediunidade apenas cerca de dezoito meses atrás.

As faculdades de Franek Kluski são claramente hereditárias; seu pai tinha as mesmas faculdades, embora nunca tenha dado sessões. Fenômenos manifestavam-se espontaneamente ao seu redor, e Franek tem conservado, de sua infância, a memória exata de episódios característicos. Por exemplo, ele conta que um dia o espírito de seu avô ergueu-se repentinamente diante de seu pai, que se havia embriagado, e deu-lhe uma forte repreensão. O pai, perturbado pela embriaguez, respondeu desrespeitosamente, e recebeu do Espírito um tremendo bofetão, do qual, por muitos dias, permaneceram os sinais!

O tio paterno de Franek, sacerdote católico, também era dotado de faculdades mediúnicas e frequentemente tinha visões telepáticas verídicas.

A infância de Franek passou assim embalada pelo maravilhoso relato de eventos que eram comuns na família. Essas histórias o impressionaram ainda mais porque sua saúde era muito frágil. Todos os seus irmãos, homens e mulheres, morreram prematuramente, e ele mesmo, nos primeiros anos, sofreu de sarampo, escarlatina, varíola e febre tifoide complicada por violenta pneumonia.

Ele era um menino de caráter sonhador e contemplativo. Não compartilhava os jogos de sua idade e buscava a solidão.

Desde aquela época estava sujeito a pressentimentos: ele tinha a visão exata de acontecimentos distantes e a percepção de "fantasmas" que para ele apresentavam a aparência de vivos. Por volta dos cinco ou seis anos, essas visões tornaram-se muito claras e frequentes. O garoto achava que era a coisa mais natural do mundo e nunca teve o menor medo ou a menor emoção por isso. Ele falava familiarmente com seus "fantasmas", sempre benevolentes e acolhedores com ele.

Achamos que seria interessante para nossos leitores ter do próprio Franek a narração de suas primeiras impressões mediúnicas e compará-las com as de outros médiuns famosos, como a Sra. D’Espérance.

Infelizmente, essa narrativa é um pouco extensa. Publicamos na íntegra a seguinte passagem, que tanta originalidade e interesse possui, e do resto iremos fazer um simples resumo.

Durante o dia – diz Franek, falando de si mesmo – o menino ficava em um canto, reclinado ou deitado, o olhar no vazio. À noite, quando as luzes se acendiam, ele se animava. Na sala onde seus pais estavam, ele pegava duas cadeiras, cobrindo-as com um grande xale e escondia-se sob aquela tenda improvisada com alguns livros, embora ainda não soubesse ler.

Ele estava quietinho e quando seus pais perguntavam o que ele estava fazendo, ele invariavelmente respondia que iria ver a 'toupeira'. "Você ao menos sabe o que é uma toupeira? – perguntava sua mãe. – Como você quer ver uma toupeira na cidade?"

Seus amiguinhos invejavam-no por ter visto a toupeira, porque as crianças não duvidavam da veracidade das suas palavras.

"Certa vez, que seus pais tinham saído, ele brincava com as outras crianças e fez uma barraca maior do que a costumeira, com a ajuda de cadeiras cobertas por uma grande colcha, e convidou as crianças e a babá de sua irmãzinha mais nova para entrar naquela "tenda" para "ver a toupeira".

Na rua estava caindo uma terrível geada. A sala em que se encontravam era aquecida por um grande aquecedor de cerâmica que naquele momento começou a estalar ruidosamente. A babá, acreditando que o aquecedor estava quente em excesso, quis abrir a portinhola, mas como os rangidos se acentuavam ela ficou com medo e não se mexeu. As crianças também não se mexeram por medo.

Nosso garotinho levantou-se então, saiu de debaixo da barraca e foi até o aquecedor. Mas naquele mesmo momento a lâmpada que iluminava a sala apagou-se repentinamente e saiu pela portinhola do aquecedor uma névoa azulada que envolveu o menino e flutuou pela sala. As outras crianças gritaram de espanto, mas nosso herói disse-lhes que não tivessem medo porque a toupeira justamente acabara de chegar.

Ele os convidou a se juntarem sob a tenda para lhes contar a história da toupeira. Sua voz era outra então; aquela voz disse que o caminho que leva à toupeira é muito longo; é preciso atravessar longos corredores sombrios, aí tem que parar e esperar as trevas se dissiparem; então o caminho torna-se mais claro.

Ele contava que as crianças mortas são enterradas porque assim podem chegar mais facilmente à toupeira.

Recomenda às crianças novamente ficarem calmas e terem juízo para chegar até a toupeira sem enfurecê-la. As crianças consentiram e para ficarem mais quietas deram-se as mãos. Havia um relógio de parede na sala que marcava as horas quando uma corda presa ao mecanismo era puxada. Ninguém estava próximo a este relógio, e ainda assim ele foi ouvido marcando as horas sem parar. O garotinho disse ao seu público que isso sempre acontece quando se vai ter com a toupeira.

Ouviu-se o rumor de passos leves na sala; as outras crianças pensaram que o gato havia entrado, mas nosso protagonista disse a elas que era a toupeira que se aproximava.

Apesar de a sala estar completamente às escuras, a tenda estava iluminada em seu interior a meia-luz e as crianças viram com grande espanto um irmãozinho e uma irmãzinha mortos; compreenderam que estavam entrando no reino da toupeira e expressaram mais espanto do que medo.

Aos poucos as imagens das crianças mortas foram dissipando. Os garotos pediram ao menino que continuasse sua viagem até a toupeira. Ele disse que era impossível, mas apontou para uma fenda luminosa e pediu que olhassem através dela. As mais variadas imagens desfilaram diante de seus olhos. Eles viram uma fileira de salas e corredores iluminados como que por reflexos de pedras preciosas. Aquelas salas estavam cheias de formas humanas diáfanas e luminosas que flutuavam no ar. As crianças olhavam esse espetáculo com admiração e todas se perguntavam: "É esta a primeira vez que estou aqui?"

"A babá estava em atitude estranha. Beijava o menino nas bochechas, nas mãos, apertava-o ao coração, como se quisesse fundir-se com ele.

"Mas as paisagens começaram a se dissipar; dir-se-ia que uma rajada de vento varrera as salas e as formas flutuantes e então tudo desapareceu.

"Ruídos foram ouvidos na casa. Um cachorro latiu. É que os pais estavam voltando do teatro.

"As crianças saíram de debaixo da tenda e correram para os pais: "Mãe, fomos ver a toupeira".

Mas o efeito foi desastroso, porque a mãe ficou zangada ao encontrar os filhos ainda levantados; a babá foi repreendida e o herói desta sessão, depois de levar alguns pescoções, foi deitar.

Mas o pequeno não se importou muito; ele sabia que quando todos tivessem ido para a cama, ele poderia facilmente ir para a toupeira.

Ele nem precisaria entrar embaixo da tenda para isso: deixará seu corpo na cama e ele irá.

Ele sabe bem que é doloroso no início: tem a sensação de que está se afogando ou sufocando; mas finalmente arranca-se do leito, vê a si mesmo deitado sob os lençóis enquanto ele está em pé ao lado da cama, e então pode ir sem obstáculo para a toupeira. Ele vai passar pela fenda luminosa; não contará aquilo que vai ver; aliás, isso não pode ser contado; isso é para ser sentido, como os perfumes são percebidos, ou como ele sentia o hálito da mãe em seu rosto em sua última doença grave.

"Quando regressou da toupeira, sentiu-se muito cansado, não pela viagem que acabara de fazer, mas pela ideia de voltar. Ele sabia que aquele que permanecia na cama e em quem devia entrar não estava à sua medida e que sofreria muito para "preenchê-lo"; deveria se deslocar para preencher os braços, pernas e cabeça.

"Ele sabia que uma vez retornado ao corpo que repousava em sua cama, suas idas à toupeira haviam terminado, e isso lhe causava grande aborrecimento e o fazia chorar em silêncio por muito tempo.

"Certa ocasião, quando voltava de sua expedição noturna, que era costumeira na época, ele parecia estar na fazenda e ver uma casa que não conhecia e, naquela casa, sua mãe doente de cama. Ao lado da cama de sua mãe, ele via uma aparição horrível que diziam ser uma pneumonia.

Mal voltou ao corpo, ele soltou gritos de partir o coração. Seus pais vieram, assustados.

Ele implorou para que expulsassem de lá o fantasma horrível. Seus pais viram que ele estava com febre alta e pensaram que ele estava muito doente. Mas aos poucos o menino se acalmou e adormeceu. Na manhã seguinte, ele acordou completamente bom.

“Bem, no verão toda a família foi para a fazenda e a mãe pegou uma grave pneumonia. Pensaram então que o menino pressentira esse acontecimento.

Novamente, ao retornar de sua expedição noturna, ele viu uma extensão de água profunda e negra, para a qual um trabalhador chamado Martin Slawuta tentava empurrar seu pai. Assim que voltou ao corpo, começou a gritar, tomado por uma febre intensa, dizendo que Martin Slawuta quer afogar seu pai.

Lutava no seu leito de tal modo que deu trabalho para segurá-lo; chamado o médico às pressas, ele constatou a existência de uma febre muito alta. No dia seguinte, a criança estava bem; mas, algumas semanas depois, Martin Slawuta apresentou uma queixa falsa, em resultado da qual faltou pouco para seu pai perder o emprego. Mais uma vez, eles perceberam que o menino tivera um pressentimento.

"Aos poucos as viagens até a toupeira foram se tornando cada vez mais e mais cansativas. Mas o autor não pode especificar quando terminaram. Ele também não sabe dizer quando ocorreu a primeira viagem."

Mais tarde, Franek sentia prazer em passear por cemitérios e bosques. Ele deitava na grama e "os fantasmas" vinham ao seu redor. Ele então via seus pais, seus amigos falecidos e muitas vezes também fantasmas de animais, cães, gatos e lobos que faziam roda em torno dele. Os amiguinhos que às vezes ele levava em sua companhia assistiam, segundo ele nos conta, ao mesmo espetáculo e acompanhavam-no com grande interesse. À noite, aparições idênticas se aglomeravam em torno de sua cama e sempre com o mesmo caráter amigável.

Aos doze anos, Franek, sem nenhum motivo sério, abandonou a casa paterna e, nos dias em que durou essa fuga injustificada, ele ganhou a vida como pôde.

As visões continuaram e aumentaram na época da puberdade. Aos dezesseis anos, Franek se apaixonou por uma jovem. Ela morreu e desde então ele a vê em todos os momentos importantes de sua vida. Mas essa visão é dolorosa porque a jovem sempre aparece em seu féretro, ou seja, no momento em que a alma do jovem se rasgou e deixou uma marca indelével nele. Franek afirma que sua namorada apareceu em algumas sessões materializada em seu caixão de morta!

Uma vez – segundo conta – ele foi capaz de vê-la novamente, não morta, mas como viva; era uma noite em que, dominado por um grande desgosto, pensava com grande intensidade na amiga, que já estava morta há quatro anos. De repente ela apareceu sorrindo, sentada na cama ao lado dele.

Ela o beijou na testa e nos lábios, falou longamente com ele e recitou versos como quando era viva. A seguir, desapareceu. Franek anotou suas palavras.

Dos 20 aos 40 anos, muito ocupado, casado e pai de família, Franek deu pouca atenção às suas visões.

No final do inverno de 1918 a 1919, uma noite com vários amigos eu estava participando de uma sessão com o médium Guzik. Quando ele se retirou, seus amigos tiveram a ideia de experimentar dar continuidade à sessão, para ver se eles obtinham alguns fenômenos sem médium. Para sua grande surpresa, visões luminosas manifestaram-se em torno de Franek. Ao seu lado estava uma jovem que foi unanimemente declarada médium e a quem imploraram para se prestar a novas experiências. Mas ela recusou.

Outra sessão com Guzik produziu os mesmos resultados da anterior; depois que ele se retirou, os fenômenos em torno de Franek evoluíram. Os presentes entenderam então que era ele quem atuava como médium. Franek não quis acreditar e brigou com seus amigos por causa disso. Só várias semanas depois ele concordou em tentar novas sessões, que deram resultado completo.

No verão e outono de 1920, Franek deixou de exercer sua mediunidade. Alistado como voluntário na guerra contra os bolcheviques, lutou nos postos avançados dos exércitos heroicos que dispersaram as hordas asiáticas que haviam alcançado as portas de Varsóvia.

Recentemente desmobilizado e muito cansado, Franek porém, não hesitou em responder ao desejo do Instituto e em impor dolorosos sacrifícios a si mesmo para podermos estudar sua mediunidade.

Devemos destacar também um acontecimento extraordinário em sua vida: aos 27 anos seu peito foi atravessado de parte a parte por um tiro de revólver em um desafio.

A cicatriz da entrada do projétil está no quarto espaço intercostal, a quatro dedos do esterno, próximo ao mamilo. Uma radioscopia recente indica que a bala tem descido ligeiramente para fora e agora está no nível da 10ª costela.

Franek conta com humor as peripécias daquele duelo e o espanto do cirurgião, que o acreditava morto, quando o viu voltar à vida alguns momentos depois. No entanto, a partir dessa data, ele tem estado sujeito as palpitações violentas que o atacam durante as sessões ou imediatamente depois.

Achamos interessante pedir a Franek para nos contar as impressões pessoais de sua mediunidade. Como a Sra. D' Esperance, com quem tem muitos pontos de semelhança, Franek se interessa apaixonadamente pelos fenômenos e, como ela, é capaz de observá-los mantendo, nem sempre, mas com frequência, o conhecimento e a lucidez completa durante o desenvolvimento das materializações. O relato será publicado em nossa crônica da Revue Metapsichique.

Antes de terminar este prólogo, diremos algo sobre o método que nos sentimos obrigados a adotar para a apresentação dos resultados de nossas experiências.

O método atual, quase clássico, neste campo, é bem conhecido; consiste em publicar memórias in extenso, tão completas e fiéis quanto possível, de cada sessão. Os eventos são narrados na mesma ordem em que se apresentam. Cada ata é meticulosamente assinada, ao pé, por todos os presentes.

Este método tem a grande vantagem de não custar trabalho algum aos narradores, que nada precisam fazer senão copiar as atas. Mas isso tem dois grandes inconvenientes: em primeiro lugar, é enfadonho; nada tão monótono, tenhamos a coragem de dizê-lo, como as centenas de observações deste gênero e os livros que as contêm. O tédio, inseparável à leitura dessas memórias analíticas, quase supera seu interesse, ao menos para muitos leitores.

Outra desvantagem mais grave é que os fatos não são reunidos em ordem lógica, a qual nada tem a ver com ordem cronológica.

É claro que um determinado fato atinge toda a sua importância quando é comparado com fatos análogos, mesmo que não sejam simultâneos, muito mais do que quando ocorre entre fatos de natureza diferente. A impressão é concluída, definida ou corrigida com esta comparação indispensável.

É, portanto, totalmente errado acreditar que o método analítico e cronológico de apresentação seja mais sincero e mais rigoroso do que o método da síntese lógica. Na realidade, o primeiro não se presta ao rigor científico, exceto na aparência, aliás, presta-se mais à ilusão ou ao erro.

Deve-se notar, a este respeito, que o mais ilustre dos metapsiquistas, William Crookes, não rendeu tributo a esse preconceito e utilizou o método do agrupamento lógico dos fatos na exposição de suas experiências. A leitura de seu livro (bem como a dos livros metapsíquicos compostos de acordo com esse método, como são os de Aksakof, Delanne, Sra. D'Esperance) é singularmente mais atraente, mais fecunda, mais instrutiva do que a leitura de obras de análise estrita das quais falamos antes.

De resto, isso não acontece apenas com a metapsíquica, pode ser aplicado a todas as ciências; mas nas outras ciências não é preciso sofrer, como nesta, o preconceito da descrição analítica e da cronologia. Na realidade, todo sábio tem o direito (e o dever) de expor os fatos do modo que julgar mais útil para sua compreensão.

Em qualquer caso, os dois métodos são defensáveis e o melhor, em nossa opinião, é combiná-los. Eis aqui, então, como concebemos nosso trabalho:

Em primeiro lugar, não utilizaremos o direito legítimo de todo pesquisador de fazer, nos resultados obtidos, uma seleção destinada ao público. Iremos dar a conhecer tudo aquilo que obtivemos.

Iniciaremos o método sintético, agrupando os casos da mesma índole, conforme requer a lógica; mas para satisfazer os adeptos da ordem cronológica e os fiéis da análise, teremos o cuidado de, ao mesmo tempo, situar os nossos documentos no tempo e dizer a qual data e sessão corresponde este ou aquele caso importante.

Além disso, e muito principalmente, inseriremos um amplo resumo dos relatórios analíticos; memórias que foram escritas imediatamente após cada sessão. Desta forma, nossos leitores terão análise e síntese ao mesmo tempo. Assim, poderão ter uma ideia muito exata das sessões e, ao mesmo tempo, adquirir uma visão de conjunto, clara e completa, dos resultados obtidos.

As experiências do Instituto Metapsíquico com o médium Franek Kluski foram feitas em estreita colaboração com o Professor Richet, o Sr. A. de Gramont e nós.

Preparávamos o trabalho de comum acordo, discutíamos os resultados obtidos e nos esforçávamos em tirar o melhor partido possível da mediunidade de Franek. Nesta difícil tarefa, recebemos a preciosa ajuda do nosso amigo o conde Júlio Potocki. A sua experiência nos fenômenos da materialização, que tem estudado com diversos médiuns ao longo dos últimos vinte anos, prestou-nos grandes serviços, pelos quais lhe agradecemos muito efusivamente.

Agradecemos também ao Coronel Okolowicz, membro da Sociedade de Estudos Psíquicos de Varsóvia. O Coronel Okolowicz estava então em comissão em Paris e teve a gentileza de colaborar conosco para o maior sucesso de nossos estudos.

A Sociedade de Estudos Psíquicos de Varsóvia, onde temos a sorte de contar com amigos seguros, deu-nos toda sorte de facilidades.

Ficamos profundamente comovidos com a simpatia despertada por nossos esforços em Varsóvia. Os nossos amigos poloneses, assim como nós, compreenderam que a amizade secular entre a França e a Polônia deve produzir frutos, não só no campo político, mas também no campo ideal e científico.

Do mesmo modo pensava o grande patriota Sr. Franek Kluski quando veio até Paris, para oferecer os meios para estudar cientificamente sua maravilhosa mediunidade.

Como podemos manifestar a ele nossa gratidão? O serviço que tem prestado ao Instituto Metapsíquico e à ciência não pode ser expresso apenas com uma fórmula de agradecimento.

Já dissemos acima que usaríamos a ordem de apresentação lógica dos fatos na exposição de nossas experiências com Franek Kluski. Esta ordem é a seguinte:

Organização geral das sessões.

Substância primordial e fenômenos luminosos.

Materialização de membros humanos.

Materialização de rostos humanos.

Materialização de formas animais.

Movimento de objetos sem contato aparente e de batidas.

Fenômenos de ordem intelectual.

Gustave Geley - Ectoplasmia e Clarividência

V. — Moldagens dos membros materializados. Experiências feitas no I. M. I.

Dissemos que a maioria de nossas sessões com o Sr. Franek Kluski foi dedicada à obtenção de moldes de membros humanos materializados.

Esses membros, tal como os percebíamos pela vista e pelo contato, eram tão perfeitos que decidimos tentar obter uma prova documental deles sob condições de vigilância e verificação indiscutíveis.

Outro motivo nos decidira a fazê-lo: em nossas experiências anteriores de materialização não havíamos conseguido obter essas provas documentais. Todas as nossas tentativas de obter impressões de mãos materializadas foram infrutuosas.

Portanto, era indicado repetir essas provas com Franek em diferentes condições. Recorremos ao antigo procedimento da parafina fundida, amplamente descrito por Aksakof (Animismo e Espiritismo) (1). Este procedimento é o único que conhecemos que permite obter moldes muito rápidos e ao mesmo tempo completos.

É também o único que se adapta bem às condições tão especiais da materialização metapsíquica. Outros procedimentos são bem inferiores: o uso de substâncias plásticas, do negro de fumo, pode dar bons resultados, mas necessariamente parciais. O gesso não serve para isso, porque não se pode prever em que momento o fenômeno ocorrerá e porque o gesso "endurece" muito lentamente.

1) Este método foi inventado em 1875, na América, por M. Denton, professor de Geologia. Mais tarde, foi usado em Londres pelos Sres. Reimers e Oxley. Desde então, nenhum outro médium (pelo menos que eu conheça) havia se revelado, até estes últimos tempos, como capaz de produzir tais moldes.

Lembraremos em que consistem os moldes de parafina: Um recipiente contém parafina derretida flutuando em água quente. É colocado próximo ao médium durante a sessão. Pede-se à "entidade" materializada para mergulhar uma mão, um pé ou uma parte de seu rosto, várias vezes, na parafina. Quase instantaneamente, um molde é formado exatamente aplicado ao referido membro. Este molde endurece rapidamente no ar ou em contato com água fria contida em outro recipiente próximo. Em seguida, a parte orgânica em funções desmaterializa-se e deixa uma luva em mãos dos experimentadores.

Posteriormente, é possível verter gesso na referida luva e retirar a parafina, mergulhando-a em água fervente. Fica então um modelo que reproduz todos os detalhes da parte materializada.

O arranjo usado por nós era de acordo com este método; mas não utilizamos a vasilha de água fria para o resfriamento dos moldes, a fim de simplificar e para segurança na vigilância.

Portanto, não tínhamos nada além de uma vasilha com água quente e parafina. Este recipiente era de 0,30m de diâmetro. Um quilo de parafina flutuava na superfície da água quente, formando uma camada de cerca de 10 centímetros de espessura. (Na verdade, a vasilha era muito pequena e a quantidade de parafina também, o que gerava dificuldades e defeitos que devem ser evitados no futuro, como veremos adiante.)

O recipiente era colocado em um aquecedor elétrico; mas o calor da parafina era tanto que precisávamos desligá-lo antes de iniciar as sessões. O resfriamento da parafina ocorria aos poucos; às vezes cedo demais. A partir de agora usaremos um aquecedor que dê uma temperatura moderada e constante.

Vasilha e aquecedor foram colocados sobre uma mesa em frente ao médium, a 60 centímetros dele. Como dissemos, os experimentadores formavam uma corrente ao redor da mesa, e dois deles pegavam, um da mão direita e o outro da esquerda de Franek. Uma fraca luz vermelha deixava ver a silhueta, sempre imóvel, do médium.

Obtivemos no I. M. I. nove moldes no total, dentre eles sete moldes de mãos, um de um pé e outro da parte inferior de um rosto (lábios e queixo). O último é de dimensão normal; os oito restantes são menores do que o natural e parecem reproduzir as mãos de uma criança entre cinco e sete anos.

As moldagens eram feitas a pedido, durante a sessão. Geralmente, a operação começava depois de um tempo bastante longo (vinte minutos, em média) e era muito rápida (um a dois minutos, às vezes menos). Essa rapidez não deixa de nos surpreender, porque a parafina, em temperatura ambiente, não solidifica tão depressa.

Parece, segundo o médium, que as entidades que operam podem modificar à vontade a temperatura do membro materializado e esfriá-lo consideravelmente para acelerar a solidificação da parafina com a qual entram em contato. Damos essa explicação tal como ela se produz, fazendo notar que as mãos do médium em transe frequentemente sofrem um esfriamento brusco e considerável.

A tênue luz que tínhamos não permitia observar inteiramente o fenômeno de visu; suas fases eram seguidas pelo barulho da mão no líquido. A operação era realizada em dois ou três tempos: a mão atuante era imersa no recipiente de parafina, saía, e com os dedos impregnados de parafina quente, vinha tocar as mãos dos vigilantes, mergulhando depois no recipiente. Após a operação, geralmente ficava depositada, junto à mão de um dos vigilantes, uma luva de parafina, ainda quente, mas já sólida.

Obtivemos assim duas moldagens (lâmina XXI, figuras 45 e 46) na sessão de 8 de novembro de 1920 (1ª sessão); mais duas (figs. 47 e 48) na sessão de 11 de novembro (2ª sessão); uma apenas (fig. 49) na sessão do dia 15 (5ª sessão); duas (figs. 50 e 51) na sessão de 27 de dezembro (10.ª sessão); duas (figs. 52 e 53) na sessão de 31 de dezembro (11.ª e última sessão).

Iremos expor a seguir apenas nossas principais atas analíticas.

Sessão de 15 de novembro de 1920 (5ª sessão).

(Durante esta sessão, quando pude, aproximei minha mão esquerda, que segurava a mão direita do médium, até fazer contato com a mão esquerda deste, vigiada pela mão direita do Professor Richet; de modo que eu notava três mãos sob a minha ao mesmo tempo: as duas do médium e uma do Professor Richet.)

"Depois de cerca de um quarto de hora, ouve-se claramente um respingar no recipiente da parafina. O professor Richet sente dedos encharcados em parafina quente sobre sua mão direita. Um pouco de parafina cai em sua mão. As manifestações duram bastante tempo (cerca de dois minutos) e temos a impressão de que são produzidas duas moldagens. Nada disso. O médium parece cansado; aumento a força da luz vermelha e ele acorda. Há apenas uma moldagem: é a mão de uma criança, a mão direita, com o índice esticado e os outros dedos retraídos (fig. 49). A mão está completa até o punho. Há muita parafina pelo chão e nas roupas do médium.
"O peso que falta no recipiente é de 85 gramas e o molde pesa 25 gramas."

Sessão de 27 de dezembro (10ª sessão).

A vigilância foi perfeita. O professor Richet segurava a mão direita e o conde Potocki segurava a esquerda. Várias vezes ambos afirmaram: "Tenho bem segurada a mão direita..." "Eu tenho bem segurada a mão esquerda..." Após quinze ou vinte minutos ouve-se o respingar da parafina. As mãos que operavam encaminham-se, cheias de parafina, para as mãos dos vigilantes. Antes da sessão, o professor Richet e eu adicionamos um corante azul à parafina, que em massa apresentava um tom azulado. Isso foi feito com o maior sigilo, de forma a poder afirmar que as peças moldadas eram de fato constituídas pela parafina do recipiente e não preparadas com antecedência, trazidas por Franek ou qualquer outra pessoa e colocadas sobre a mesa por prestidigitação, a despeito da vigilância.

A operação durou, como de costume, de um a dois minutos.

Foram encontrados dois moldes admiráveis de mãos direita e esquerda, da dimensão das mãos de uma criança de cinco a sete anos. Esses moldes eram de parafina azulada. A tonalidade era rigorosamente igual à da parafina no recipiente (Figuras 50 e 51).

O peso da vasilha era, antes da sessão, 3.920 quilos.

O peso da mesma era, depois de realizada, 3.800 idem.

Então faltavam 120 gramas.

Agora, os dois moldes pesavam 50 gramas.

O resto representa uma quantidade significativa de parafina encontrada:

1.º No chão, ao lado do médium (quase 15 gramas).

2.º No chão, muito longe do médium (a três metros e meio, em local onde ele não podia ter ido, junto ao equipamento fotográfico).

Não raspamos o solo para pesar esta última parafina, mas havia muita, 25 gramas no mínimo, (o médium não se aproximou deste local em nenhum momento, nem antes nem durante a sessão.)
3.º Por último, havia parafina nas mãos do médium (que os observadores não tinham liberado nem por um momento) e em suas roupas.

Ver abaixo a descrição das moldagens (Figuras 50 e 51).

Se o leitor consultasse as obras de Crawford (Revue Métapsychique, março-abril de 1921), veria que nossas observações concordam inteiramente com as dele.

Em suas experiências de impressões em barro, após as sessões, assim como nós encontrávamos parafina, ele encontrava barro no chão, na mesa, sobre os experimentadores, sobre o médium amarrado à cadeira. Algumas partículas de barro eram encontradas até no interior dos sapatos do médium. Do mesmo modo nós vimos parafina até nas roupas interiores de Franek. A concordância de nossas pesquisas é, portanto, notável.

Gustave Geley - Ectoplasmia e Clarividência

Gustave Geley - Ectoplasmia e Clarividência

Moldes materializados de espíritos pelo médium Franek Kluski

Figs 45, 46 ,47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56.

Institut Métapsychique International

Fontes: Institut Métapsychique International

Fontes: Psi Encyclopedie

Fontes: Site Nautilus (Col. Norbert Ocholowicz)

"Franek Kluski possuía faculdades latentes mediunidade de efeitos físicos e a mediunidade intelectual com notáveis dons psíquicos, que é uma combinação muito rara. Estranhos pressentimentos, visões de acontecimentos distantes, e a facilidade de ver espíritos, eram seus os dotes, desde a infância, mas sua mediunidade só foi descoberta acidentalmente em uma sessão em Guzyk em 1919. Sua manifestação o irritou, mas sua curiosidade foi despertada."

Gustave Geley "Ectoplasmia e Clarividência"

"Franek Kluski, um polonês, a quem o falecido Dr. Gustave Geley, diretor do Metapsychique Instituto Internacional de Paris, chamou o Rei dos Médiuns, devemos as mais incríveis experiências desse tipo de materialização com que os cientistas sempre tiveram a sorte de compartilhar."

Col. Norbert Ocholowicz "Pesquisador da fenomenologia espírita da Polônia"

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Biografia de Franek Kluski

 

Biografia de Gustave Geley

 

Gustave Geley - Ectoplasmia e Clarividência (Obra rara traduzida)

 

Gustave Geley - La ectoplasmia y la clarividencia (1924) (Esp.)

 

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RELAÇÃO DE OBRAS EM OUTROS IDIOMAS

 

Gustave Geley - Materialisations-Experimente mit M. Franek-Kluski (1922) (Ger)

 

Medium Frankiem Kluskim by Col. Norbert Ocholowicz (1926) (Pol.)

 

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