CAIRBAR SCHUTEL

ESPIRITISMO E MATERIALISMO

(1ª Edição - 1925)

 

Introdução da obra:

Duas palavras

Quando, ao nos iniciarmos no Caminho da Verdade, começamos a estudar o "porquê da Vida e o porquê da morte", fizemos a promessa de não reter em nossos lábios e não cristalizar em nossas penas todas as novas aquisições que os céus nos concedessem. Temos procurado cumprir esse ditame no estreito limite das nossas forças.

E assim que reeditamos agora este opúsculo, com o único intuito de tornar conhecida a Doutrina que nos alimenta e fortalece.

Uma só glória e recompensa desejamos, é que as poucas, mas sinceras palavras encerradas neste folheto, dêem a pensar a todos os que o lerem.

Cairbar Schutel

Trechos da obra:

II

Existência e imortalidade da alma

Antes de entrarmos em consideração sobre as seitas religiosas que disputam a posse da Verdade, cumpre-nos primeiramente indagar se, com efeito, continuamos a viver depois do aniquilamento do nosso corpo físico, ou se esse ser que pensa em nós é o resultante das funções cerebrais e também se ele se aniquila no momento em que o nosso corpo tomba exânime, em uma palavra, se somos imortais.

Até aqui todas as congregações religiosas têm afirmado a sobrevivência da alma, mas a sua filosofia abstrata tem implantado o cepticismo, o ascetismo, o fanatismo e a superstição, em vez de trazer luz para o assunto de tanta transcendência qual o reconhecermos a nossa própria existência - a nossa imortalidade e, portanto, os nossos deveres para com Deus.

A Lei de Deus implica a existência da alma e sua imortalidade, pois, em caso contrário, as leis da Terra - o "Código Penal" - seriam suficientes para regular as nossas obrigações para com a sociedade.

Hoje que a humanidade está cansada de especulações filosóficas que saem das forjas do sectarismo religioso, é preciso que as palavras se apóiem em fatos - as teorias apresentadas para demonstrar a nossa imortalidade venham acompanhadas de testemunhos visíveis e tangíveis - método mais convincente, adotado pela ciência positiva da verdade.

É esse o papel que vem representar o Espiritismo.

Ele nos aponta um mundo invisível e nos ensina os meios de estabelecermos relações com os que nos são caros e se mudaram para esse mundo.

Se quisermos nos comunicar com os parentes ou amigos que residem na Europa, Ásia e África, sujeitamo-nos aos meios de comunicações até agora estabelecidos para podermos receber notícias suas e cada vez mais estreitarmos os laços de amizade que nos prendem. Por que não havemos de fazer o mesmo com esses nossos amigos e parentes que se mudaram para o mundo dos Espíritos, e continuam tão vivos como nós e ainda mais - libertos das prisões corporais que os prendiam a esta terra?

Mas comecemos onde devemos começar, para depois entrarmos em considerações mais circunstanciadas.

Temos alma, - ou a nossa inteligência e vontade são emanações da substância cerebral?

A tradição nos responde que sim - temos uma alma imortal - o bom senso também opina pela existência e sobrevivência da alma. O raciocínio depois de acurado estudo fortalece a argumentação em prol da dualidade: Espírito e corpo, este como instrumento e aquele como fator, e as nossas ações boas ou más como as funções emanadas do Espírito e manifestando-se no exterior.

Deixemos, porém, de parte a tradição, porque nem sempre ela pode servir de base para argumentos; abandonemos também o bom senso que pode falsear de inteligência a inteligência e desprezemos por um momento o raciocínio, mesmo porque nem todos se acham de posse da razão, pois se escravizaram aos gozos temporários desta existência ou às delícias abstratas prometidas por homens que, transviando a sua missão, cuidam dos corpos e não das almas, trocam o Reino de Deus pela vil moeda da qual e pela qual vivem.

Passemos aos fatos.

Sem querer citar as experiências de escrupulosos sábios que conseguiram conversar com as almas como quem conversa com qualquer criatura humana face a face, fotografá-las, obter delas moldagens das mãos em parafina; sem falarmos nas assombrosas manifestações obtidas por Crookes, Wallace, De Rochas, Gibier, Lombroso, Maxwell, Aksakof, Camilo Flammarion e mais uma centena de sábios que seria fastidioso enumerar, e das frisantes manifestações espontâneas que se repetem freqüentemente em todas as localidades do mundo - nas chamadas casas assombradas - busquemos testemunhos que possam ser obtidos por nós, pois são estes que mais impressionam os nossos sentidos.

Se o nosso eu existe independente do corpo físico, precisa se manifestar fora desse corpo para que possa se constatar a sua existência.

Cairbar Schutel

Trechos da obra:

IV

A alma revestida do seu corpo fluídico

Magnetismo e Hipnotismo

Se estudarmos o Magnetismo e o Sonambulismo e pusermos em prática as teorias dessas ramificações do Espiritismo, havemos de nos convencer que a alma revestida de um corpo fluídico pode agir fora do corpo carnal, demonstrando assim a sua individualidade. Seria mesmo impossível conceber uma alma sem corpo, pois é lógico que a alma existindo deve forçosamente ter um corpo imperecível que a acompanha antes e depois da morte. Assim é que se efetua a transição que chamamos indevidamente morte, esse corpo fluídico que acompanha o corpo físico se separa dele restituindo à terra o que era da terra.

As experiências dos sábios vêm em apoio dos Ensinos dos Espíritos, sobre o corpo fluídico; - os sonâmbulos do magnetizador Lewis e da Sra. Morgan desdobraram-se a ponto de produzirem manifestações físicas à distância e serem vistos por pessoas suas conhecidas.

Sob a influência do magnetismo, a perispirito ou o corpo fluídico se exterioriza a ponto de ser fotografado.

Haja vista as observações de De Rochas e do Dr. Barlemont que fotografaram o corpo de um médium e do seu duplo momentaneamente separados.

Como se poderá explicar a visão com os olhos vendados, - à distância e no interior do corpo humano a não admitirmos a alma?

Puysegur, Deleuze, du Potet e outros, concluíram pelas suas experiências que o sono magnético imobilizando o corpo e aniquilando os sentidos restitui a liberdade ao ser psíquico, que não pode ser outra coisa senão o Espírito, pois ele vive e pensa fora da matéria. O Dr. Gibier diz em sua obra Análise das Coisas que desde a "fascinação" até o sono letárgico, vemos o caminho que leva ao estado de desdobramento da pessoa.

O Dr. Deleuze afirma: "O magnetismo demonstra a espiritualidade da alma e sua imortalidade".

Creia o leitor que nada tem de comum as faculdades da alma com a matéria.

O magnetismo e hipnotismo são ótimos auxiliares para estudar a alma, quer aliada a um corpo carnal, quer separada desse corpo e em sua vida psíquica.

Na impossibilidade de transcrevermos narrações autênticas das que sem dúvida muito interessariam a quem nos lê, visto os poucos recursos de que dispomos, lembramos entretanto aos que se interessam pela Verdade, o livro de Gabriel Delanne: "A Alma é Imortal", que derrama jorros de luz sobre o assunto que nos prende a atenção.

Materialismo

Fatigada dos absurdos dogmáticos da crença banal e irrisória decretada pelos ambiciosos que chamaram a si o privilégio da Verdade, grande parte dos homens, fazendo completa abstração de seus deveres para com Deus e seu próximo, enveredaram para as teorias do "nada", abraçando a crença no aniquilamento da alma, e com ela a de todas as aptidões, - todas as habilidades, - todos os sentimentos, ainda mesmo aqueles que nos aproximam da perfeição.

Não temos a pretensão de fazer neste pequeno opúsculo, um estudo das teorias materialistas, sejam as de Buckner, Moleschot e Comte, etc.; seja o "Monismo" de Haeckel com suas "demonstrações científicas", desmascaradas hoje pelos eminentes sábios - Oliver Lodge na Inglaterra, Bass, na Alemanha. Entretanto, não podíamos furtar-nos de apontar essa doutrina errônea e falsa em suas bases primordiais, como uma das causas da anarquia morai que reina em todas as consciências, implantando o egoísmo, o orgulho e todas as vis paixões e trazendo a dissolução na sociedade.

Acobertando-se com suas regras de moral, substanciosas na forma, mas vazias de um sentimento sério realizável, caminha o Materialismo estabelecendo a derrocada nos espíritos fracos e pusilânimes, e destruindo o que há de mais santo e de mais verdadeiro - a liberdade que por Deus nos foi confiada para prestarmos severas contas das obras por nós praticadas'.

Esquivemo-nos, porém, de comentar as teorias irracionais, desconsoladoras e prejudiciais dos adoradores da matéria - deixemos a censura que nada edifica a quem procura a Verdade, e passemos ao raciocínio e à lógica; tomemos, enfim, as mesmas armas que dizem usar os partidários do aniquilamento da alma, para ferir o ponto principal da questão.

Suponhamos por um momento que não fosse possível demonstrar a existência do "Espírito", pelo Magnetismo e Hipnotismo, demos de exemplo que fossem suprimidos todos os meios de comunicações com o Mundo dos Espíritos, ainda, assim, a Razão, essa lanterna que nos guia na pesquisa da Verdade, repeliria com os raios de sua lógica vibrante, o "dogma materialista", de que o pensamento é uma secreção do cérebro, e que o "Eu" é a resultante do trabalho das moléculas que se uniram para formar o corpo físico.

É bastante estudarmos a "MEMÓRIA" para chegarmos à conclusão que existe fora do corpo físico, um outro corpo que, como uma placa sensível fotográfica, guarda para sempre todos os fatos que impressionam o nosso Espírito, - que finalmente existe em nós um "ser" que pensa, quer, sente e ama com completa reminiscência da sua infância e de todos os atos de sua vida.

E neste corpo denominado por Allan Kardec - "perispírito" ou corpo espiritual que reside a memória. Já os filósofos gregos pelas palavras - "Ochéma" e "Ferouer" chamavam o invólucro da alma "lúcido, etéreo, aromático".

S. Paulo, o grande doutor das gentes, em sua Epístola aos Coríntios, disse: "Assim como há um corpo animal, também o homem possui um corpo celeste".

O invólucro da alma recebeu, enfim, várias denominações de filósofos que constataram a sua existência. Embora os materialistas queiram, a viva força, negar a existência dessa vestimenta fluídica que envolve a nossa alma e onde se acham gravadas as lembranças da nossa existência, a sua negação servirá tão somente para destronar a "deusa matéria" tão venerada por todos aqueles que não se querem afastar de suas teorias preconcebidas.

É corrente em ciência e os materialistas são unânimes em afirmar que a matéria se renova constantemente e que o nosso corpo atual não é o mesmo que nos envolvia há 7 anos atrás. Para demonstrar esta verdade trazem em apoio, entre outras experiências, a de Flourens, que consiste no seguinte:

"Submetendo-se durante um mês um animal ao regime da granza, substância que tinge de vermelho os objetos que são dela impregnados, no fim de um mês deste regime, o animal possui um esqueleto tinto de vermelho. Se depois passarem a dar ao animal sua alimentação habitual, os ossos tornam-se brancos a partir do centro porque o renovamento incessante dos ossos como da carne, opera-se do interior para o exterior".

De maneira que, desde as partes mais consistentes da carcaça óssea, às partes mais moles do cérebro, um renovamento incessante se opera, e como o organismo do animal, o do homem obedece às mesmas leis.

Como explicar, diante dessas mutações - transformações da matéria, o fato de guardarmos a lembrança do que se tem passado conosco, mesmo depois de 20 - 30 - 60 e mais anos, se não admitirmos um ser pensante que armazene, fora da matéria que se transforma e modifica, essas lembranças, prontas sempre a serem externadas por um esforço da nossa vontade?

Há pouco, ilustre homem de ciência que me distingue com sua amizade, pensou ter respondido a essa pergunta que lhe fiz, com a afirmação: "que a "célula" não se destrói repentinamente, e que a nova "célula" vai se adaptando a antiga e recebendo desta o timbre das lembranças que não foram destruídas".

Embora a boa vontade permita conceder inteligência à "célula", esse argumento cai ao primeiro sopro do raciocínio.

Aproveitamos os estudos do ilustre cientista Gabriel Delanne, feitos de acordo com Richet: "Origine de la memoire"; Maudsley: "Physiologie de I'Esprit"; Ribot: "Les malades de la memoire"; Carpenter: "Mental physiology", etc. e procuremos esclarecer o nosso raciocínio.

Já sabemos que na natureza tudo é movimento. Os corpos que parecem em repouso não o estão: nem exteriormente, pois participam do movimento da Terra, - nem interiormente, pois suas moléculas são sem cessar agitadas por essas forças invisíveis que lhes dão suas propriedades físicas particulares: estados sólidos, líquidos e gasosos.

As modificações das moléculas devem portanto, ser produzidas por um movimento vibratório.

Esse movimento por sua vez deve ter a intensidade e durações necessárias para sua realização.

Cada ato psíquico requer uma duração apreciável; - toda ação nervosa cuja duração não se efetua nos limites necessários para que a ação psíquica se produza, não pode despertar a consciência. Isto parece claro e lógico.

Para que na mudança da "célula" se opere a impressão da lembrança é forçoso que o movimento tenha uma certa intensidade e uma certa duração. Quando começa a se operar a nova mudança, forçosamente o movimento terá diminuído de intensidade e duração precisas, para que a nova molécula seja afetada, visto a resistência das moléculas novas que é preciso vencer.

Na primeira renovação a impressão não pode ficar gravada com a mesma precisão com que estava na "célula" velha, por causa do tempo que decorreu não ser o necessário, e ainda por causa da intensidade não ser suficiente em virtude mesmo do pouco prazo que a "célula" nova teve na realização do seu trabalho.

Na segunda renovação a impressão ainda será menos saliente. Da terceira, quarta em diante começará a se apagar.

Essas renovações se operam em grande número de vezes, visto a extrema rapidez nas permutações nutritivas, - de sorte que, quando o indivíduo for velho, a lembrança estará completamente apagada das "células".

Ora, e ninguém ousará negar, é justamente o contrário o que se dá - as lembranças da infância são persistentes nos anciãos - o que demonstra que elas não estão armazenadas nas "células" que se renovam, mas sim no "perispirito" cuja existência os materialistas se limitam tão somente em negar.

A negação nada prova, e não é pelo fato dos materialistas negarem o Espírito, que ele deixa de existir; - o cego também nega a luz, o surdo, os sons, entretanto o sol e os astros nunca deixaram de nos alumiar com seus clarões benéficos, e os sons não deixaram de ser percebidos por nós que os admiramos e apreciamos.

O materialismo é incoerente em seus ensinos, absurdo em suas divagações e prejudicial em suas conclusões. Divorciado da Razão que pretende a todos os momentos "endeusar", o materialismo contradiz-se, ora dogmatizando, quando lhe escapam a lógica e o raciocínio, ora valendo-se dos subterfúgios e dos sofismas quando quer fazer prevalecer suas teorias preconcebidas.

Como diz o ilustre escritor Leon Denis o "espírito humano flutua indeciso entre as solicitações das duas potências: de um lado as religiões com seu espírito de dominação e de intolerância; - de outro a "ciência" materialista em seus princípios como em seus fins, com frias negações e exagerada inclinação para o individualismo.

Uma: religião sem provas; outra: ciência sem ideal; - e em torno de ambas acumulam-se as ruínas e os destroços de numerosas esperanças e de aspirações derrubadas".

É preciso nos erguermos para oferecer combate a essas idéias errôneas que trazem em si o timbre do orgulho e da vaidade com que foram concebidas.

Oxalá que as nossas demonstrações sirvam de incentivo para todos aqueles que nos lerem com atenção, estudarem mais intimamente a questão do "Ser" e do "não Ser" tão debatida nestes últimos tempos.

Cairbar Schutel

Fontes: Casa Editora O Clarim

Fontes: Allan Kardec.OnLine (Manuscritos Raros e Inéditos de Allan Kardec - Museu Virtual e Historiografia do Espiritismo)

"O Espiritismo matou o materialismo através dos fatos. E segundo suas conclusões, ele mostra os inevitáveis efeitos do mal e, conseqüentemente, a necessidade de se praticar o bem."

Allan Kardec "O Codificador do Espiritismo"

"O Espiritismo realiza o que Jesus disse ao consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança."

Allan Kardec "O Codificador do Espiritismo"

"Podem queimar livros, mas não se queimam ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam, em vez de extingui-las. Ademais, as idéias estão no ar, e não há Pirineus bastante elevados para detê-las; e quando é grande e generosa uma ideia, encontra milhares de corações dispostos a almejá-la."

Allan Kardec "O Codificador do Espiritismo"
 

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